quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Fim de Ano

Bom, primeiramente desejar um Feliz Natal e um ótimo 2008 para todos.

Devo dizer que o ano não foi ruim, espero que tenham gostado do conteúdo daqui.
Viajo amanhã e volto dia 2 de janeiro. Admito que não preparei lista exclusiva do "Ciclo do Contratempo" de melhores do ano, mas escrevi algumas coisas para o Boris vs Laika ( http://borisvslaika.clickbest.net/ ) .

Temos lá lista de vídeos, singles, revelações e discos(ainda a ser postada) de 2007.

Um abraço,

Lucas Benedecti

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O novo grito da Nação


Nação Zumbi

Disco: Fome de tudo


Ano: 2007


Deckdisc


12 faixas





É carnaval, é inferno, é fome, festa na mata. Ficção científica nordestina. Olinda e Recife são citadas. Multi-cor, ultra-som, olhos de espelho, cabeça de leão. De todo lado surge um som. Seja samba, rock, eletrônica, o infinito. A música mundi-regional, que brota do realismo surreal da Nação Zumbi. Em “Fome de tudo” temos o trabalho mais conciso da Nação desde os tempos de Chico Science. A “fome” se torna tema central para algo tão visceral e explosivo. Porém, temas reluzem como ouro por aqui. Há espaço para o intimismo, para o diálogo, discussões e questionamentos nas letras de Jorge du Peixe.

A Nação Zumbi veio armada e colorida, com sinestesias, guitarras espaciais e o maracatu atômico. Elevemos nossas almas para ouvir o poderio das mais refinadas distorções nordestinas. Um trabalho feroz que está quente por si. Remete-nos a imagens nordestinas, ao paraíso frustrado e a muitas figuras importadas de bem longe. Nem somente de ritmos nordestinos vive a banda, aliás, o regional não existe mais puro, dá lugar à nova fórmula. Esta foi obtida de tempos vividos, experiência que deu lugar à consciência e ao amadurecimento do trabalho.

A primeira faixa, “Bossa nostra”, que também é o primeiro single, tem poder das guitarras de Lucio Maia, por sinal um guitarrista sempre em ascensão, da batida e pegada forte na bateria e das letras cheias de figuras de linguagem, cada vez melhores, de Jorge du Peixe. “Cada cor tem o seu cheiro, cada hora lança sua dor”, na mente dos adeptos do Mangue Beat. Crítica, espontânea e rica, com um refrão corta caminhos e expressões pop com uma única frase: “Elevei minha alma pra passear”. Em “Infeste”, segunda música, temos um dos refrões mais pertinentes do disco. Com o peso das guitarras distorcidas, e tambores estourando num ritmo quante, canta du Peixe: “costas quentes/ dentes acesos/ olhos de espelho/ cabeça de leão/ lançando o perigo na ponta do enfeite/ estica o caminho quem manda no chão”. O perfil da terra, do nordestino e das condições de tempo são mostrados em pura poesia mágica. O diferencial da Nação está sempre ali do futuro ao passado. Em “Carnaval”, a descrição da folia de Olinda e Recife aparece como “multi-cor”, “ultra-som”. E Jorge brinca: “Olha o frevo aí, trava a perna”. Notas curtas e picadinhas na guitarra recheada de efeitos dão vida a musica. Aqui surge a partição de parte da Orquestra Popular de Recife. Trompetes modernos em estilo jazzístico e “Órgão National” são parte de participações especiais, mais do que eficientes no disco.


“Inferno”, que surge soturna, conta com a participação da cantora Céu. Numa definição especialíssima do próprio “inferno”, temos vocais sussurrados e a voz profetisa de Céu que aparecem dando toque essencial a uma das músicas mais bem produzidas e significativas do disco. As guitarras são contidas e explodem no clímax. A percussão é um detalhe que dá alma e a Nação soube utilizá-la nesta música. Daí segue uma música que quebra um pouco as influências do rock, “Nascedouro”. Samba, metais, violão e ritmos cubanos. Caminhos outros seguidos funcionam. E são misturas e arranjos modernos que fariam inveja ao Radiohead. “Onde tenho que ir” possui cítara, batida quase eletrônica e rock em suas entranhas. “Assustado”, uma pegada genial no baixo, percussão e guitarras wah-wah soando perfeitamente numa melodia tribal, próximo do dub, do reggae, e por final um refrão que tem descendências da guitarra de Hendrix, palmas e tambores. Toga Ogan e Jorge du Peixe fazem uma de suas melhores canções/letras, certamente, que lembram muito Chico Science.

Chegamos a “Fome de tudo”, faixa mais pesada do disco. Visceral, moderna, transcendental. Vozes modificadas, guitarras em peso máximo gritam eletronicamente, tambores e bateria de Pupillo em atuação condizente com tudo. O que a fome faz? O que já fez? “A fome de tudo universal com o tempo inteiro ao seu favor”. “A fome tem uma saúde de ferro” – exclama Jorge du Peixe. São temas difíceis de se encontrar por aí, mas dizem quase tudo sobre um sub-mundo tratado pela Nação Zumbi. “Toda surdez será castigada” aparece como uma cantiga melancólica. Aqui há pessimismo, em melodia triste, du Peixe e Junio Barreto cantam. A letra remete a tempos de guerra onde “já soltaram as bombas em alto volume/ mesmo assim nem fizeram sombra/ na zuada o silêncio gira/ vagueia e acaba matando a manhã.” Efeitos de lap-top ajudam a dar clima espacial, numa melodia trabalhada por tambores e bateria.

Mais do mesmo em “A culpa” e “Originais do sonho”, com a diferença de programações eletrônicas, rudimentos carregados de Pupillo na bateria, ficção científica e o experimentalismo nas letras. Fazem lembrar o tempo em que Chico cantava em que uma sobremesa lhe esperava em casa. E se todos dias nascem deuses, como diz na letra da última canção, “No olimpo”, a banda foi iluminada por um na realização desta. Uma ciranda embalada por esperança e uma alegria única. Dotada de harmonia, frenesi e arranjo memorável de cordas. Dançante e ao mesmo destruidora. Retrata os novos tempos com leveza e sabedoria. O som e espírito da Nação Zumbi renascem sempre que escutamos uma obra como essa.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Thurston Moore - Trees Outside The Academy













Thurston Morre

Disco: Trees Outside The Academy

Ano: 2007

Ecstatic Peace

12 Faixas



As guitarras bases distorcidas dão lugar a violinos e violões. A bateria/percussão fica na pegadinha Sonic Youth. Solos merecem ainda a velha guitarra elétrica. Mas agora as melodias têm mais prioridade, a barulheira fica de lado, em parte. Vocais susurrados, como só Thurston Moore sabe fazer. Junte, além disso, letras e canções de tom noise/folk a participações especiais que fizeram a diferença no disco. Essa mistura levou-nos à essência de “Trees Outside The Academy”, disco solo de Moore.

Depois de doze anos sem lançar discos (solos, obviamente), o cantor, guitarrista e compositor resolveu se aventurar por aquilo que não havia explorado: o acústico. É curioso, no mínimo, ver Thurston “trocar” seu instrumento elétrico por um violão. Mas, por incrível que pareça, ele faz algo parecido com o instrumento acústico, explorando solos e lições vindas desde o começo de carreira. Aí vem a pergunta que todos fazem: parece com Sonic Youth? – Claro! Afinal, estamos falando de um dos mentores da banda, e seu jeito de compor não se modificará por completo. O que muda basicamente aqui são os arranjos, dando-nos canções mais “pop” e/ou mais fáceis de ser compreendidas. Não há o som seco e sujo do SY. Entretanto, alguns acordes do violão de Moore nos fazem lembrar sua banda, além da bateria e percussão comandada por Steve Shelly.

Para compor o disco, Thurston uniu-se ao guitarrista do Dinosaur Jr, J. Mascis, que emprestou seu estúdio caseiro e acabou fazendo algumas guitarras no CD. O violino que surge com freqüência é de Sâmara Lubelski. Foi um achado, um simples toque faz muita diferença. E, se a moda agora é colocar violino em toda banda de canto de esquina, Moore já arrumou a sua violinista. Foi um instrumento que se adaptou ao seu trabalho de maneira peculiar, fazendo bases lentas, harmoniosas, sem exageros ou floreados. A dramaticidade do instrumento é realizada aos poucos, ao movimento de cada música percebe-se o quão preciosos são seus graves e agudos.

Há de se notar que vilões corda de aço ganham expressão nas mãos dos músicos. Não temos ritmos muito rápidos, tem-se mais prioridade em sentimentos que vão desde um solo de guitarra elétrica cortando tudo, violinos ou a voz de Thurston nos repetindo algo. “Frozen Gtr” e “The shape is in a trance” refletem bem isso, dando início ao disco. São canções simples, mas bem trabalhadas, lembrando algo de Sonic Youth, pela bateria. Entretanto, vemos brilhar a terceira faixa, “Honest James”, certamente a mais comovente do disco, por sua letra, melodia, vocais e violões. Chega a ser quase instrumental (mais da metade da música, na verdade) e nos coloca no céu literalmente por sua delicadeza. Christina Carter, vocalista do Charalambides, e Moore cantam juntos nessa faixa, fazendo todo o diferencial do disco.

Adentramos o “Trees Outside The Academy” e vemos mais progressões de violões e solos num clima sempre tenso, como lá pelo meio de “Silver>Blue”. Uma característica das guitarras são sempre a busca pelo além. Surpreende-nos, muitas vezes. Ruídos também se misturam às músicas, como não poderia faltar. Temos canções acústicas maduras que Thurston Moore foi capaz de criar, em “Fri/Emd” ou “Never Day”, folk misturado a roupagens modernas, entretanto, a primeira tende ao pop. Guitarras sujas pouco aparecem, mas formam parte do disco. “Wonderful Witches”, primeiro single do disco, explica isso, buscando influências grunge e do próprio Sonic Youth. Há também “Off Work” que mescla percussão, ao som esclarecedor do violino e guitarras sujas, criando uma sonoridade única. Divide-se em duas, sendo instrumental, chegando sempre ao obscuro e caótico, como um adolescente brincando com sua guitarra. Daqui a pouco vem o acústico e a resolução é simples: a história tem seu final doce. Moore gosta também de pianos, basta ouvir a “American Coffin”, que surge ao ruído e logo aparece, como num sonho, longe e cheia de ecos.

Quando se trata de criatividade, não há discussões sobre as músicas de Moore, sempre atento ao inatingível. O rei do noise rock dedica ainda nos seus discos faixas com 36 segundos de apenas ruídos. Porém, formula canções de seis minutos instrumentais cheias de clímax e ímpeto, nervosas como no caso de “Trees Outside The Academy”, que dá nome ao disco. Suas músicas são eternas experiências que arrancam das veias certa revolta e liberdade. Thurston é corajoso. Espere tudo dele, inclusive a última “música”, que nos remete ao passado do músico com 13 anos apenas. Já fazia travessuras quando nem tinha instrumentos em mãos. São lembranças que consistem num apego do próprio compositor. Para nós não significa muita coisa.


Se Thurston atinge os limites anti-pop?! Nem tanto. São coisas que se perdem com o tempo. Mas o tempo é algo interessante, é relativo. As canções que observamos aqui revelam o íntimo e não há alvos a serem atingidos diretamente. Música para sentir.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Diário pós-viagem - Rio de Janeiro, Tim Festival e Histórias p'ra contar

Três da manhã do dia 25 de outubro, Fortaleza. Levantamos. Lembro-me,ainda, que com muito sono. Eu e Maria Amélia, minha namorada, estávamos prestes a ir para o Rio de Janeiro. A lua era linda, grande e amarela, naquela madrugada. De dentro do carro, com os ingressos comprados para ver o Tim Festival, olhávamos frios para a cidade, como se ela não nos importasse mais. O objetivo era voar bem longe de Fortaleza. Veríamos os shows da Björk, Antony and the Johnsons, Arctic Monkeys e Hot Chip. A princípio, seria isto. Entretanto, o diferencial não estava somente nas bandas ou conhecer o Rio, as pessoas que estavam lá foram essenciais para que a viagem se tornasse o que foi.

Embarcamos. Havia o receio da chuva que, no dia anterior, acabara bloqueando a passagem para o túnel Rebouças, causando também desmoronamentos na “cidade maravilhosa”. Porém, nada estragara nosso animo. Fomos presenteados com a visão do nascer do sol, dentro do avião. Partíamos às 5 e 30 da manhã, para chegarmos às 8 no Rio. Como havia horário de verão, ajustei meu relógio para 9h. A chuva era fina na cidade, fazia 23°C. Do aeroporto Tom Jobim, partíamos para Copacabana. Nada de muitas surpresas no caminho para a casa de minha tia Cláudia, onde ficaríamos, até surgir o Centro, o porto, o Pão de Açúcar e as igrejas – dando-nos o espetáculo de imagens grandiosas. As propagandas – por sinal muito belas – do Tim compunham parte da cidade. Havia grandes blocos de concreto na forma do símbolo do festival, coloridos e espalhados por vários pontos e imensos cartazes em prédios e pontos de ônibus. Seguíamos num trânsito lento, com chuva leve.

Em casa, descansamos um pouco. Os ingressos foram entregues a nós, pois minha tia que os havia comprado e guardado. Ganhei um pôster do Tim, com programação do evento e logo anunciei que iria grudá-lo no meu quarto, quando voltasse de viagem. Tratamos de andar um pouco pela rua Ministro Viveiros de Castro, para conhecer a feira de frutas e legumes, naquela quinta-feira. Compramos morango, nêspera, – fruta que não encontramos por Fortaleza – uma pequena ameixa e um guarda-chuva. Na volta, encontramos Wallace, um grande amigo que também iria ao Tim. Subimos para casa, comemos as frutas e conversamos sobre música. Björk entrava sempre como assunto: a sua voz, roupas e hospedagem no Rio... Wallace mostrava-se o mais fanático pela cantora e todos diziam não acreditar ainda no show.

Depois de um tempo, já eram mais ou menos 5 horas. A chuvinha fina não parava. Pegaríamos o metrô, Wallace nos levaria ao Centro. No caminho, o céu nublado formava uma paisagem peculiar. No meio de dois prédios surgia um grande morro. Eu, chocado e maravilhado, descobrira naquele momento a enorme beleza do Rio de Janeiro. Da estação Cardeal Arcoverde, partimos para Uruguaiana. No Centro, visitamos lojas de instrumentos musicais, vimos a Biblioteca Nacional, na Cinelândia, e passamos pelo Centro Cultural Banco do Brasil, com Wallace de guia. Neste último, vimos um pouco da exposição “Lusa – A matriz Portuguesa”, que dá início à comemoração dos 200 anos da chegada da família real ao Brasil. Depois dali, um ótimo lanche no Subway (valeu pela dica, Wall). Umas dez horas da noite, ainda com pingos de chuva, tomamos um ônibus para casa: eu e Amélia descemos em Copacabana e Wallace na Barra da Tijuca. Deveríamos descansar, pois amanhã era o dia tão esperado.

Durante a manhã do dia 26, eu, tia Cláudia e Amélia saímos para passear em Copacabana. Fazia sol. Vimos os hotéis, a praia e, claro, as vacas do “Cow Parade” espalhadas pela orla. Passamos por Ipanema e entramos no hotel Fasano. Foi lá que conhecemos o bar “Londra”. Capas de discos penduradas nas paredes, a temática era escura e inspirava-se no rock inglês. Poltronas e sofás de couro eram bordados com a arte “God save the Queen” dos Sex Pistols. Enquanto duas grandes bandeiras estilizadas do Reino Unido, como cores da Itália, ficavam nas duas extremidades do bar. Seria ótimo tomar um drink ali, mas estava fechado, só abriria de noite. Continuamos o passeio rumo ao Leblon. A vista era linda da orla e o morro Dois Irmãos aparecia no fundo. Mais adiante, avista-se o Sheraton, hotel em que Björk estava hospedada. Lindo. Um prédio com cerca de vinte andares que ficava “colado” a um morro enorme e com vista para o azul do mar.

A próxima parada: comunidade da Rocinha. Pela simples indicação do motorista da van, decidimos subir a Rocinha. De cara, vimos algo bem diferente da zona Sul. A favela toda construída no morro era de impressionar. Subíamos numa passagem estreita, onde somente a van em que estávamos e um carro seriam capazes de passar. Em alguns trechos, nem isso. Acho que por isso havia muitas motos por ali. Um amontoado de fios, pessoas e casinhas nos invadiam. O transporte ia enchendo e comecei a observar melhor as pessoas da comunidade. Pessoas humildes e trabalhadoras estavam em sua maioria dentro da pequena van, ao mesmo tempo em que havia duas garotas conversando sobre internet e tinham celular de última geração. Uma das jovens, porém, contava suas dificuldades em conseguir dinheiro no trabalho. O que posso dizer é que me senti em Fortaleza, no momento em que vi uma propaganda grudada no poste das “bandas de forró” que se ouvem por aqui. Daí relacionei a fisionomia das pessoas, o lugar meio descuidado e a própria pobreza no plano material. Digo material, porque culturalmente o povo carioca parece-me mais profundo e enraizado nos seus costumes. Conheci a Rocinha de um modo distante, contudo, fizemos algo que muitos cariocas admitiram não fazer.

Na descida do morro, outro cenário: o luxo. Casarões e carros importados mostravam o contraste que presenciávamos naquele momento. Voltávamos em direção a Copacabana. O trânsito intenso nas avenidas da orla quase nos fez ir a pé para casa, mas esperamos na van, exaustos. Chegamos umas três horas da tarde e decidimos comer ali por perto no Cervantes o famoso sanduíche com abacaxi. Depois fomos para casa.

Esperamos Wallace no térreo do prédio, pois ele iria com a gente para o show. Em pouco tempo apareceu com sua camisa roxa da Björk. Subimos. O show da Björk era o mais esperado pelos 3 que estavam comigo. Eu aguardava mais o do Arctic Monkeys. Comentava-se qual seria o “set list” da cantora, qual sua roupa e se cantaria com Antony Hegart. Estava na hora de partir. De ônibus, fomos até a Marina da Glória, onde aconteceria o festival.

Ao atravessar a passarela do aterro do Flamengo, via-se de longe o grande letreiro iluminado em forma de seta escrito “Tim Festival”. Estávamos lá! E, muito empolgados, tiramos fotos e caminhamos para a fila. Agora éramos cinco, pois Juliana, amiga de Wallace, entrara para o grupo. Tudo era divertido na fila, enquanto Wallace e sua amiga contavam as aventuras no show, que foram outrora, do Franz Ferdinand. Mais meia-hora na fila e chega Alex direto de viagem, de mochila e tudo para ver Björk e Antony conosco. Logo entramos para a Marina da Glória. Tudo muito bem planejado. Havia contêineres coloridos que cercavam o lugar, vídeos sendo exibidos, bares, lanchonetes, luzes de néon, num espaço rodeado por água do mar. Letreiros iluminados mostravam-nos as tendas com os nomes das atrações. Após pegarmos a pulseira que daria direito ao show do Antony and the Johnsons e Björk, ficamos esperando dentro da tenda superequipada, com lugar para 4 mil pessoas. A fila para comprar bebida estava grande.

O piano de calda no palco não deixou dúvidas de que o primeiro a subir seria Antony. Com seu visual andrógino, descabelado e todo vestido de preto, ele aparece. Sua banda, composta por dois violinos, um baixo e um violoncelo, completam o visual dark: todos de preto para combinar?! O cantor inglês parece todo tímido, mas logo se solta com sua voz, ao piano. A pouca iluminação é para que o clima nos envolva melhor. Mas parece que não adiantava, pessoas conversavam do começo ao fim da apresentação. Antony, contudo, era bastante aplaudido entre as músicas. “Fistful of love”, “Cripple and the starfish” e “You are my sister” foram algumas das músicas mais esperadas e, muito bem executadas, fizeram parte de um repertório não muito extenso. Um show tipicamente acústico deixou a desejar pela falta de volume do piano tocado por Antony e, talvez, pela ausência de uma bateria em algumas músicas. A voz de Antony, todos concordaram, era realmente maravilhosa ao vivo. Prova disso foi o final com “Hope there’s someone”. Sua voz ecoava pela tenda e todos ficavam atônitos. Hegarty desejou-nos bom show (da Björk) e disse que talvez subiria no palco para cantar com a islandesa. Sabia que todos queriam Björk e o lugar não era tão apropriado para seu show. Foram apenas quarenta minutos de apresentação.

A musa Björk era muito esperada. Estava rodeado de fãs. No palco, começavam as mudanças. O cenário da cantora é todo enfeitado de bandeiras, com telões e equipamentos pesados. Sapos, peixes e outros animais estavam estampados na decoração tribal/oriental. A ansiedade tomou conta do público, que gritava seu nome. Quem primeiro apareceu foi o grupo de metais, composto por dez islandesas, todas maquiadas e vestidas no estilo “Volta”. Tocavam uma introdução, caminhando para o canto direito do palco. Nessa hora o público ia ao delírio. O restante do grupo foi entrando, dando corpo a música. Havia bateria, lap-tops e teclados. Quando Björk entra com “Earth Intruders”, ouve-se apenas os gritos da multidão que cantava. A pequena estava no seu vestido dourado reluzente de plástico, descalça e com sua coroa na cabeça. A partir de então começava o espetáculo. Björk ia de um lado para o outro, enquanto o público dançava o ritmo tribal. E tudo se tornava mágico com sua interpretação a cada música. O show passou não só a explorar seu último disco, mas canções de toda sua carreira como cantora solo. “Hunter” foi enigmática e assustadora. “Unravel” me pegou pelo pescoço, puxou-me para outra dimensão e me fez chorar. “I miss you” e “Army of me” foram cantadas em coro por todos que estavam ali. “Pagan Poetry”, mais do que linda, tornou-se destaque na apresentação. Björk ria, fazia carinha de bruxa, dançava e dizia “obrigado”, em português mesmo. Os lasers verdes, a espuma branca que ela soltava da mão, a incrível sonoridade e estilo do “reactable”, unida ao pique do DJ björkiano, e as islandesas sempre acompanhando as músicas, não saíram de minha cabeça ainda. “Wanderlust” teve maravilhosa apresentação também. Até ali Antony não apareceu, nem apareceria, pois estava no palco das Divas. Mas a pequena islandesa por si só deu um show à parte. Em uma hora e meia de show, não acreditávamos que tudo havia acabado. Mas Björk voltou para o “grand finale”. Uma música que valeu por mil: “Declare Independence” compôs o Bis. A cantora apresentava a banda e agradecia muito, enquanto as meninas islandesas formavam um círculo em torno da musa. “Declare Independence” tem um ritmo forte, crescente e eletrônico e todos se uniam num ritual cego, cantando e pulando. Lembrava uma festa rave. Pedaços de papeis luminosos jorravam do palco e o público enlouquecia. Era uma noite de festa e tudo acabou como num sonho.

Estávamos estarrecidos, perdidos no meio de tanta gente. Agora, eu, Alex e Amélia procurávamos um lugar fora da tenda, pois nos perdemos dos outros. Tia Cláudia saíra, porque não assistiria aos outros shows. Cansados ao extremo, sentamos no banco do lado de fora. Havia chovido e agora caia um chuvisco. Alex se despediu, dizendo que iria para a tenda dedicada às divas. Em poucos minutos, Wallace liga. Diz que está vindo nos encontrar com Juliana. Daí, nem esperava, conheci Fábio pessoalmente que me presenteou com o último disco da Nação Zumbi, “Fome de Tudo”. Eu, claro, adorei o presente e agradeci. A noite tinha tudo para ser perfeita. Pessoas super especiais, com ótimos shows, num lugar muito lindo. Tudo muito bom, até que eu e Amélia tivemos que enfrentar a file das pulseiras para o próximo show. Lá fomos nós. Wallace e Ju já tinham pego e Fábio estava com sua credencial. Fila, como sempre, é chata. Demorou e estava com medo de perder o Arctic Monkeys. Mas deu certo. Com as pulseiras, voltamos para encontrar o grupo. Porém, bateu a fome e entramos para a fila do cachorro-quente. Fui avisar ao pessoal, enquanto Amélia ficava na fila que parecia não andar. Quando cheguei, estava Wallace, Ju e um casal de amigos deles. Fui apresentado e voltei para ajudar Amélia. Acabamos invertendo os papéis: fiquei na fila e ela foi descansar com o grupo. Aconteceu algo curioso comigo. Uma moça pediu-me para que comprasse um hot-dog para ela. E eu disse: “OK, entre na minha frente se quiser”. Ela ficou ali do lado, meio que querendo nada. No final das contas, acabou pagando meu sanduíche. Voltei feliz e disse: “ganhei um cachorro-quente!”. - “Como assim?”. Foi a moça que insistiu.

Já estava na hora da próxima estação, então, corremos para a fila. Fábio estava com a gente. Na entrada da tenda, que por sinal era a mesma da Björk, já se ouvia as batidas do grupo britânico Hot Chip.

A banda, considerada, no cenário do novo rock, como new rave, fez jus à característica que os críticos lhe empregaram. Na tenda, muitos dançavam e se divertiam com as batidas eletrônicas. As músicas ao vivo pareciam ser mais extensas. Eles abriram o show com “And I was a boy from school…” e deram início ao repertório variado, para todos os gostos. O som das batidas estava muito alto e dava-nos a sensação de estarmos presentes numa festa eletrônica, com o show de luzes e pessoas se deixando levar pelas pulsações. Mesmo sendo algo bem eletrônico, o Hot Chip apimentava o som com guitarra e percussões. Um show realmente animado, diferente do CD, que parece morto, às vezes. Deu até vontade de dançar ao som de “Over and over”. As músicas se emendavam e os caras no palco se moviam sem jeito, numa dança tímida e maluca, típicas deles. Foram, aproximadamente, 50 minutos de show. Pois, é bem verdade que a maioria das pessoas ali esperava a próxima banda: o Arctic Monkeys.

Cansados, eu, Amélia e Wallace sentamos no chão. Tirávamos fotos. Fábio esperava muito do próximo show, Amélia e eu também, por isso descansávamos, enquanto os equipamentos do palco eram trocados. Lembro-me que os amplificadores das guitarras ficavam à direita, bateria e baixo à esquerda. Era uma montagem de palco simples, comparada a de Björk. Microfones, guitarras e bateria eram testadas: tudo pronto para os macacos entrarem.

No princípio, a escuridão. Dái um susto: uma música começa a tocar. Mas onde estão os músicos? – procura-se naquela escuridão. Não havia ninguém. A música era dos caras, mas eles não estavam lá. Foi com isso que abriram o show. Quando ligam as luzes, os gritos são fortes. Os quatro estão lá no palco e emendam o intro a uma música nova. Todos meio calados agora para escutar aquela música desconhecida. No final, aplausos. Mas os quatro não querem nem saber. “This house is a circus” deu continuidade ligeira e esta nos deu alegria.

Sete refletores estão atrás da banda, no palco. Acendem e apagam, conforme a música. E, conforme a música, o charme e empolgação dos quatro jovens ingleses do Arctic Monkeys atingem todos que estavam ali. “Brainstorm” veio trucidando. Eles pareciam máquinas de tão ensaiados que estavam. O público enlouquecia e logo surgiu uma, duas rodas-punk por perto de onde estava. Não estou querendo justificar as rodinhas, mas é quando aquelas pessoas, geralmente jovens, extravasam todos seus problemas ali. É uma forma de manifestação, mas que fique bem longe de mim. Voltando ao show, a banda era muito elétrica. Mandavam hits atrás de hits, na pegada forte de guitarras, baixo e bateria. As já famosas “Dancing shoes”, “The view from the afternoon” e “Flourescent adolescent” (que por sinal tocava nas rádios do Rio e Fortaleza “!”) fizeram todos cantar. Um show a parte foi dado pelo baterista, Matt Helders, que tocava com enorme segurança e agilidade, em sua bateria sempre à vista, do lado dos outros integrantes, e Alex Turner, com sua guitarra nervosa e voz rouca, balançava sua cabeleira, sempre se voltando para o baterista ou o guitarrista Jamie Cook. Se pedissem para em uma palavra resumir o show, esta seria energia. Energia que passam esses ingleses e nos revigora por saber que o bom rock ainda está vivo. O clima intenso fazia muitas pessoas pular e dançar naquela noite. Ainda temos “When the sun goes down” e “D is for dangerous” para continuar o repertório enorme de umas vinte músicas. “A certain romance” ficou para o final, encerrando o show. Dali saíram desacreditados, outros contentes. Mas uma coisa é certa: os ingleses realmente arrasam no palco.

Era o fim de mais um show. E o que mais poderia acontecer? Já havia certas expectativas, principalmente por parte da Amélia, em ver o Montage, banda cearense no palco dedicado às atrações nacionais. Mas não foi desta vez. A chuva acabou estragando tudo e os shows do palco “nacional” foram cancelados. Mas a ressaca nem nos deixava pensar direito.

Esperamos, meio paralisados pelo cansaço, o dia amanhecer para irmos embora. Mesmo com o show da Cibelle liberado, decidimos conversar ou apenas admirar a noite. Já eram cinco da manhã e uma tapioca com carne de sol (acreditem, tinha barraquinha de tapioca lá) foi nosso café da manhã. Partimos, eu e Amélia de táxi, enquanto Fábio e Wallace pegaram um ônibus por ali. O resto do grupo foi de carona.

Ficamos mais dois dias no Rio. Aproveitamos algumas coisas além do TIM, sim. Principalmente a amizade e carinho de todos de lá. Foi inesquecível, pelo momento em que vivíamos e por termos tanta sorte e atitude: tudo deu certo para nós. Já no ônibus, a caminho do aeroporto, quis ouvir uma certa cantora islandesa. Desde então não parei mais de ouvi-la. Felizes, realizados e com lembranças muito especiais, voltamos a Fortaleza. Era hora de começar a escrever tudo isso aqui.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

TIM em Fotos - Parte 2

Adentrando o Festival





*Parede luminosa


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*Visual moderno


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*Björk no Palco


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*Entre mãos


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*Entre lasers

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*Todos querem toca-la


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Enquanto, lá fora há um monumento TIM

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*Felicidade, porque não tem outra palavra


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*Amélia, Wallace e eu, esperando o Arctic Monkeys, felizes da vida...

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*Aí aparecem os macacos de sangue quente
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*Que soltam seus nervos...

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*para que tudo fique perfeito até o final

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*Nos últimos dias, foto tirada do último andar do Botafogo Praia Shopping

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*Pôster e pulseiras do tim: saudades...











sexta-feira, 23 de novembro de 2007

TIM em Fotos

Chegada ao Rio (25/10/07)







*"Olha o Pão de Açucar!" - Coisa de turista. Foto tirada de dentro do carro, na chuva, percebe-se.
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*Museu Nacional



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*Túnel, para chegar a Copacabana

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Correndo para o TIM (26/10/07)





*Vista da passarela, no Flamengo. De um lado o Pão de Açucar...


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*De outro, o caminho para o Festival

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*Amélia e eu, ainda na passarela



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*Chegando, só pra confirmar

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*Bom, agora está realmente perto

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Arctic Monkeys no TIM

TIM Festival - 26/10/2007 - Rio de Janeiro





No princípio, a escuridão. Dái um susto: uma música começa a tocar. Mas onde estão os músicos? – procura-se naquela escuridão. Não havia ninguém. A música era dos caras, mas eles não estavam lá. Foi com isso que abriram o show. Quando ligam as luzes, os gritos são fortes. Os quatro estão lá no palco e emendam o intro a uma música nova. Todos meio calados agora para escutar aquela música desconhecida. No final, aplausos. Mas os quatro não querem nem saber. “This house is a circus” deu continuidade ligeira e esta nos deu alegria.

Sete refletores estão atrás da banda, no palco. Ascendem e apagam, conforme a música. E, conforme a música, o charme e empolgação dos quatro jovens ingleses do Arctic Monkeys atingem todos que estavam ali. “Brainstorm” veio trucidando. Eles pareciam máquinas de tão ensaiados que estavam. O público enlouquecia e logo surgiu uma, duas rodas-punk por perto de onde estava. Não estou querendo justificar as rodinhas, mas é quando aquelas pessoas, geralmente jovens, extravasam todos seus problemas ali. É uma forma de manifestação, mas que fique bem longe de mim. Voltando ao show, a banda era muito elétrica. Mandavam hits atrás de hits, na pegada forte de guitarras, baixo e bateria. As já famosas “Dancing shoes”, “The view from the afternoon” e “Flourescent adolescent” (que por sinal tocava nas rádios do Rio e Fortaleza “!”) fizeram todos cantar. Um show a parte foi dado pelo baterista, Matt Helders, que tocava com enorme segurança e agilidade, em sua bateria sempre à vista, do lado dos outros integrantes, e Alex Turner, com sua guitarra nervosa e voz rouca, balançava sua cabeleira, sempre voltando-se para o baterista ou o guitarrista Jamie Cook. Se pedissem para em uma palavra resumir o show, esta seria energia. Energia que passam esses ingleses e nos revigora por saber que o bom rock ainda está vivo. O clima intenso fazia muitas pessoas pular e dançar naquela noite. Ainda temos “Scummy” e “D is for dangerous” para continuar o repertório enorme de umas vinte músicas. “A certain romance” ficou para o final, encerrando o show. Dali saíram desacreditados, outros contentes. Mas uma coisa é certa: os ingleses realmente arrasam no palco.






*Fotos:












quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Hot Chip no TIM


TIM Festival - 26/10/2007 - Rio de Janeiro



A banda Hot Chip, considerada, no cenário do novo rock, como new rave, fez jus à característica que os críticos lhe empregaram. Na tenda, muitos dançavam e se divertiam com as batidas eletrônicas. As músicas ao vivo pareciam ser mais extensas. Eles abriram o show com “And I was a boy from school…” e deram início ao repertório variado, para todos os gostos. O som das batidas estava muito alto e dava-nos a sensação de estarmos presentes numa festa eletrônica, com o show de luzes e pessoas se deixando levar pelas pulsações.
Mesmo sendo algo bem eletrônico, o Hot Chip apimentava o som com guitarra e percussões. Um show realmente animado, diferente do CD, que parece morto, às vezes. Deu até vontade de dançar ao som de “Over and over”. As músicas se emendavam e os caras no palco se moviam sem jeito, numa dança tímida e maluca, típicas deles. Foram, aproximadamente, 50 minutos de show. Pois, é bem verdade que a maioria das pessoas ali esperava a próxima banda: o Arctic Monkeys*.

*próximo show a ser comentado aqui, aguardem.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Antony and the Johnsons + Björk no TIM

TIM Festival - 26/10/2007 - Rio de Janeiro





O piano de calda no palco não deixou dúvidas de que o primeiro a subir seria Antony. Com seu visual andrógino, descabelado e todo vestido de preto, ele aparece. Sua banda, composta por dois violinos, um baixo e um violoncelo, completam o visual dark: todos de preto para combinar?! O cantor inglês parece todo tímido, mas logo se solta com sua voz, ao piano. A pouca iluminação é para que o clima nos envolva melhor. Mas parece que não adiantava, pessoas conversavam do começo ao fim da apresentação. Antony, contudo, era bastante aplaudido entre as músicas. “Fistful of love”, “Cripple and the starfish” e “You are my sister” foram algumas das músicas mais esperadas e, muito bem executadas, fizeram parte de um repertório não muito extenso. Um show tipicamente acústico deixou a desejar pela falta de volume do piano tocado por Antony e, talvez, pela ausência de uma bateria em algumas músicas. A voz de Antony, todos concordaram, era realmente maravilhosa ao vivo. Prova disso foi o final com “Hope there’s someone”. Sua voz ecoava pela tenda e todos ficavam atônitos. Hegarty desejou-nos bom show (da Björk) e disse que talvez subiria no palco para cantar com a islandesa. Sabia que todos queriam Björk e o lugar não era tão apropriado para seu show. Foram apenas quarenta minutos de apresentação.


A musa Björk era muito esperada. Estava rodeado de fãs. No palco, começavam as mudanças. O cenário da cantora é todo enfeitado de bandeiras, com telões e equipamentos pesados. Sapos, peixes e outros animais estavam estampados na decoração tribal/oriental. A ansiedade tomou conta do público, que gritava seu nome. Quem primeiro apareceu foi o grupo de metais, composto por dez islandesas, todas maquiadas e vestidas no estilo “Volta”. Tocavam uma introdução, caminhando para o canto direito do palco. Nessa hora o público ia ao delírio. O restante do grupo foi entrando, dando corpo a música. Havia bateria, lap-tops e teclados. Quando Björk entra com “Earth Intruders”, ouve-se apenas os gritos da multidão que cantava. A pequena estava no seu vestido dourado reluzente de plástico, descalça e com sua coroa na cabeça. A partir de então começava o espetáculo. Björk ia de um lado para o outro, enquanto o público dançava o ritmo tribal. E tudo se tornava mágico com sua interpretação a cada música. O show passou não só a explorar seu último disco, mas canções de toda sua carreira como cantora solo. “Hunter” foi enigmática e assustadora. “Unravel” me pegou pelo pescoço, puxou-me para outra dimensão e me fez chorar. “I miss you” e “Army of me” foram cantadas em coro por todos que estavam ali. “Pagan Poetry”, mais do que linda, tornou-se destaque na apresentação. Björk ria, fazia carinha de bruxa, dançava e dizia “obrigado”, em português mesmo. Os lasers verdes, a espuma branca que ela soltava da mão, a incrível sonoridade e estilo do “reactable*”, unida ao pique do DJ björkiano, e as islandesas sempre acompanhando as músicas, não saíram de minha cabeça ainda. “Wanderlust” teve maravilhosa apresentação também.


Até ali Antony não apareceu, nem apareceria, pois estava no palco das Divas. Mas a pequena islandesa por si só deu um show à parte. Em uma hora e meia de show, não acreditávamos que tudo havia acabado. Mas Björk voltou para o “grand finale”. Uma música que valeu por mil: “Declare Independence” compôs o Bis. A cantora apresentava a banda e agradecia muito, enquanto as meninas islandesas formavam um círculo em torno da musa. “Declare Independence” tem um ritmo forte, crescente e eletrônico e todos se uniam num ritual cego, cantando e pulando. Lembrava uma festa rave. Pedaços de papeis luminosos jorravam do palco e o público enlouquecia. Era uma noite de festa e tudo acabou como num sonho.



FOTOS:

*Reactable



- Björk, em "Declare Independence", cantando "raise your flag!!!"


Cheguei!





Cheguei ontem de viagem. Fui ao Tim Festival. Pretendo contar como foi lá pelo Rio. Estou escrevendo tudo, aguradem.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

PJ Harvey
Disco: White Chalk
Ano: 2007
Island Records
11 faixas






Pianos e mais pianos é o que encontramos em White Chalk, de PJ Harvey. O instrumento torna-se centro da maioria das canções, exibindo o lirismo, delicadeza e harmonia na música da cantora e compositora.

Este é o oitavo álbum de estúdio de Polly Jean Harvey. Em White Chalk, PJ mostra que não tem medo de inovar. Por estar aprendendo um novo instrumento (piano), pôde dar asas a sua imaginação, declarou. E decidiu aplicá-lo em quase todas a músicas de seu novo trabalho. O peso das guitarras, que outrora fora o forte de Harvey, desaparece nesse disco, dando lugar a melodias mais intimistas e melancólicas.


Ao começar, temos a voz superafinada e suave de PJ. O piano e a bateria ritmados compõe a primeira faixa, “The Devil”. As letras tendem para um lado obscuro da cantora, percebe-se somente pelos nomes das canções. Não que isso seja uma novidade em seu trabalho, mas desta vez é algo que abraça o disco por completo. “Dear Darkness” é um bom exemplo, no qual a voz sussurrada, a bateria delicada e o piano dedilhado dão clima soturno à música. “Grow grow grow” surge misteriosa e desvenda seus segredos lá pelo meio. Faz lembrar Regina Spektor, com viagens ao piano. “When Under Ether”, o primeiro single do disco, remete-nos à lembrança de “It is desire?”, álbum de 1998, da cantora numa ótima fase. E esta faixa, por mais simples que pareça, tem força tremenda na voz e composição de PJ Harvey.

“White Chalk”, faixa que dá nome ao CD, é bucólica, com seus banjos, violão, percussão e vocais. Característica nova, de certo modo, no trabalho de PJ. Parece com muitas bandas novas, talvez influentes, do novo folk misturado a mil e um estilos, citando Joanna Newsom, Cocorosie e Jenny Lewis. Porém, o sombrio continua a rondar PJ Harvey, que se esconde sua voz por trás de efeitos nessa faixa. Seguem “Broken Harp” e “Silence”. Na primeira, bastante intimista, ouve-se harpa. Na segunda, temos piano e harmônica. A multiinstrumentista PJ ainda experimenta em “To Talk To You” algo sem muita linearidade, entretanto, esta música absorve bem o espírito do disco, onde encontramos um poço sem fim de imaginação. E, se estamos em eterna viagem, sobra uma homenagem ao instrumento que nos proporcionou isto. Em “The piano” , uma das faixas mais belas do álbum, há tudo e mais um pouco. PJ exclama: “Oh God, I miss you”. E há lembranças de tempos antigos da carreira da moça, se ouvir com atenção, sua voz está entre o(s) antigo(s) e o novo trabalho, o mesmo se encontra na composição da música.


“Before Departure” dá continuidade ao poço de imaginação. PJ já se despede, em tom melancólico. Bateria comportada e ótimos vocais de fundo. Chegamos ao fim com “The Mountain”. Aqui se concentra o diferencial da cantora, que transforma sua voz. E também nos presenteia com um belo piano. O clima é cheio e pesado, como numa solidão profunda. E no final, depois que tudo passou, gritos. Nada melhor do que gritos.

O que PJ desejou com isso? Talvez seja seu estranhamento. De uma experiência nova nasce a cantora. E tudo está escuro. Os gritos são para aqueles que não acreditavam em seu trabalho. Mas, acima de tudo, é um grito interior.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Novo disco do Radiohead


Quanto você pagaria numa música do Radiohead? Não sabe?

Bom, o novo disco da banda, "In Rainbows", estará disponível para download no site oficial www.radiohead.com , a partir do dia 10 de outubro. Mas não se trata somente disto. O preço das músicas você escolhe.

A história é resultado disto: o contrato com a gravadora teve seu fim. E agora? Ocorreram boatos que não haveria mais CDs. Thom Yorke anunciou que esta seria uma boa idéia: lançar músicas na internet, ou EPs. Porém, ano passado o Radiohead fez alguns shows, mostrando músicas novas. A gravação de um disco estava garantida, todos felizes!



Demorou. Mas o sétimo disco está completo. E vieram perguntas novamente: Quando será lançado o disco? E a gravadora, qual será? Por parte dos integrantes, nada de muita preocupação com isso. A estréia ficaria para 2008.

A surpresa veio quando num belo dia o guitarrista Johnny Greenwood anunciou no site oficial do grupo que o CD será lançado já neste mês. Está certo que não é um CD, mas, sim, as músicas do disco novo para download. Agora, algo com encarte, gravado, assinado, com fotografias e ficha técnica terá outra data de lançamento: dia 3 de dezembro. E esta vem numa versão especial, em vinil e compact disc e um segundo disco multimídia, com faixas bônus. A compra poderá ser feita também no site. O download custa quanto você quiser pagar. O trabalho com vinil e CD custarão 40 libras.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Passando para dar notícias.

Aulas, provas, cabeça em outro lugar, enfim, estive pensando em postar algo diferente e não tomei coragem. Em breve, mais resenhas.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Tim Festival - Rio de Janeiro


Palco: Novo Rock UK - dia 26/10/07

  • Arctic Monkeys

É um dos shows mais esperados do ano no Brasil. “Tenho uma queda pelo Brasil. Sempre quis tocar lá" – declarou Alex Turner, vocalista/guitarrista do Arctic Monkeys, recentemente no festival Coachella, Califórnia.



O Arctic Monkeys é uma das últimas bandas que explodiram no cenário do rock inglês. Os garotos, seguindo a formação clássica de uma banda de rock: guitarras, baixo e bateria, conquistaram grande público desde 2002, e já possuem dois discos de estúdio: Whatever People Say I Am, That's What I'm Not (2006) e Favourite Worst Nightmare, deste ano. Alex Turner, Jamie Cook, Matt Helders e Nick O’Malley descobriram a fórmula perfeita, que resgata passagem pelos anos 60 e 70. O som também se resume a várias bandas atuais que os influenciaram. Só para citar algumas: Strokes, Libertines e Franz Ferdinand. Mas o Arctic Monkeys atinge sua identidade, deixando de ser apenas uma cópia, ou imitação destas. O vocal de Turner, as guitarras nervosas e o baixo dançante transformam-se no verdadeiro espírito do rock.
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  • Hot Chip





Olhando pelo outro lado do cenário “novo rock UK”, temos o Hot Chip. A banda possui seguimento do eletro-rock/pop, e do dance. Algumas claras influências são Kraftwerk, Björk (por que não?) e Daft Punk. Os cinco integrantes: Alexis Taylor (vocal, guitarra, percussão e teclado); Joe Goddard (vocal e sintetizador); Owen Clarke (guitarra e sintetizador); Al Doyle (guitarra, sintetizador e baixo); e Felix Martin (bateria e percussão), divulgam seu segundo disco, The Warning (2006). Este rendeu dois singles à banda: Over and Over e [And I Was] A Boy From School, músicas que realmente chamam a atenção pela melodia, pelos refrões marcantes e mistura de sons.


O Hot Chip torna-se um exemplo do novo rock por suas características eletrônicas, misturadas a ritmos que não se definem; pelos integrantes não enxergarem barreiras quanto aos instrumentos (os rapazes chegam a colocar quatro sintetizadores na música); e, por ainda conseguir fazer um som original, sem limites nas letras e composições.



*Segue vídeo do Hot Chip

Hot Chip - Over and Over [live] Later with Jools Holland '06

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Tim Festival - Rio de Janeiro



Palco: Tim Volta - Dia: 26/10/07

Björk + Antony and the Johnsons




Esta será a quarta vez da islandesa no Brasil. O último show, em 1998, era época do disco “Homogenic”, de grande destaque em sua carreira. Agora, o álbum “Volta” (2007) será apresentado, porém, Björk nos dará muito mais: o encerramento de sua turnê 2007 há de se confirmar em solo brasileiro. Logo, supõe-se algo especial. Porque nenhum de seus shows cai na mesmice. E incluirá certamente a participação de Antony Hegarty ao vivo, já que este estará no Tim Festival.

Antony Hegarty, do Antony and the Johnsons, gravou duas músicas ao lado da cantora no “Volta”. O cantor e compositor encanta com sua voz e simplicidade, elaborando algo perto do Jazz, ou, às vezes, Pop. Ele também fará apresentação dia 26 de outubro. É provável que suas músicas novas entrarão no repertório, já que seu disco está para ser lançado em 2008.

A turnê de Björk vem dando grandes públicos. A novidade é um coral que a acompanha em ritmos sempre novos e inesperados. Não deixando de lado os sucessos antigos, que se tornam novidades a cada interpretação da cantora, o show traz grandes expectativas. Ainda mais porque Björk adora o Brasil. Esperemos sua dança, carisma e alegria.


*Video: Björk e Antony - trecho de "Dull flame of desire" - 2007

Björk and Antony - The dull flame of desire (live Rekjavik 2007)

sábado, 1 de setembro de 2007

Tim Festival + Eu e o contrabaixo

Vamos ao Tim Festival?!

Rio de Janeiro

Local: Marina da Glória

Dia 26 de outubro – Sexta-feira


TIM Volta
Horário: 20:00
Preço: R$180,00

Artistas:
Antony and the Johnsons
Björk

Novo Rock UK
Horário: 23:30
Preço: R$180,00

Bandas:
Hot Chip
Arctic Monkeys




Pretendo ir a estes 2 palcos.


Segue um Video do Arctic Monkeys (505 ao vivo no programa Jools Holland, 2007) e minha foto com essa preciosidade: o contrabaixo, maior do que eu, que toquei nessa semana. Em breve, mais resenhas.




segunda-feira, 20 de agosto de 2007


The Smashing Pumpkins
Disco: Zeitgeist
Ano: 2007
Reprise Records
12 faixas


Em 2007 o Smashing Pumpkins volta à ativa, depois de sete anos parado, com o novo trabalho intitulado “Zeigtgeist”. Um fato curioso, que gerou indignação de fãs, foi a banda não ter a mesma formação (James Iha, D’arcy ou Auf der Maur) de quando acabou em 2000. Mas a idéia de retomar a banda é antiga, segundo Billy Corgan, líder da banda. Daí surgem perguntas: será que o novo Smashing Pumpkins é capaz de carregar nas costas todo o peso de uma das maiores bandas de rock dos anos 90?
Será que esta não é só mais uma aventura de Corgan e Jimmy Chamberlin, como foi o Zwan? Enfim, qual será a nova identidade dos Pumpkins?

Digamos que a primeira impressão é boa. Doomsday Clock começa forte, com ótima bateria e guitarras. E Corgan já dá o seu primeiro recado: “Is everyone afraid?/ Is everyone ashamed?” (“Todos estão com medo?/ Todos estão envergonhados?”). Na verdade, a mensagem é direta aos norte-americanos. E, se isso é pouco, como se não bastasse a capa de “Zeigtgeist” que afunda a estátua da liberdade, a letra de Doomsday Clock traz toda a expressão de fúria imersa na garganta de muitos. Billy critica a falta de liberdade, e a política/cultura dos EUA, fazendo menção a algo apocalíptico que bate em seu coração.Este sofre, sendo ele um cidadão norte-americano.

Engana-se quem esperava algo sem sal. Em 7 Shades of Black, o estilo Pumpkins continua vivo. E esta dá continuidade à primeira música: “I’m digging my own hell” (“Estou cavando meu próprio inferno”). Guitarras soam nervosas, com direito a solos de Billy. Seguindo, temos Bleeding the Orchid, com ótima melodia e letra poética. Lembra o estilo mais sombrio vivido pela banda. Até aí, os novos integrantes, Jeff Schroeder (guitarras), Ginger Reyes (baixo e voz) e Lisa Harriton (teclado e voz), cumprem bem suas partes. Nem parece uma outra banda. Guitarras de James Iha, nunca mais. Porém, a essência do Smashing Pumpkins continua viva.



That’s the way (My love is) quebra um pouco o clima. Com letra mais romântica, chega a parecer com o Zwan. Os profundos teclados e a voz de Billy salvam esta música, que não é ruim, mas não chega perto da obra do antigo SP. É aqui que D’arcy e James fazem falta, por mais que tenha backing-vocal bonitinho e tudo mais. O single Tarantula é uma das músicas mais pesadas do disco. Nota-se a grande influência de heavy-metal que Billy tanto cita, letra típica da banda, cheia de antíteses. Um bom rock que melhora lá pelo meio com uma quebrada de ritmo, enquanto guitarras falam. A sexta faixa, Starz, lembra as primeiras músicas da banda. Sem muitas inovações, mas com uma bateria incandescente de Chamberlin.

Entra United States, com seus nove minutos e cinqüenta e três minutos. Um desabafo de Corgan, irritado com tudo que venha de seu país. Guitarras distorcidas melhoram do meio para o final, ouvimos um grito de revolução e gritinhos, acabamos por conhecer o verdadeiro espírito do (novo?) Smashing Pumpkins. Depois disso, temos uma banda perdida entre estilos, que não assimila uma linha contínua no disco. Começando por Neverlost, que se torna mais introspectiva e lembra mais a carreira solo de Billy. Bring the light não é SP, a não ser pela voz de Corgan. Aqui podemos dizer realmente que temos outra banda. O mesmo acontece com Come On (Let's Go), que está mais para Zwan, afastando-se da comparação com o velho Smashing.



For God and Country surge enigmática com tendências eletrônicas. Experimentalismo que deu certo. Um baixo marcante e guitarras fazem o pano de fundo. “For God and country, I'll fight/ For God and country, I'll die/ For God and country, my soul is so alive”: são referências ao mundo que vive em guerra e esquece de valores humanos. Pomp and Circumstances encerra o disco, com mais alusões à guerra: “War, sunshine and Grace”... como numa canção de ninar, vocais em coro, teclados e guitarra fazem um ótimo contexto para o fim.

E assim segue Billy Corgan (e sua banda), com muitas idéias, mas sem definições exatas do que quer. Talvez queira pouco, talvez queira muito, talvez queria continuar apenas tocando no tão sonhado Smashing Pumpkins.