sábado, 19 de julho de 2008

Outros ares do Weezer


Weezer

Disco: Red Album

Ano: 2008

Geffen

11 faixas









Vermelho. Esta é a cor escolhida pelo Weezer para “nomear” seu sexto disco. Cor de sangue, da paixão, enfim, de temas sempre abordados nas letras da banda californiana. O álbum produzido por Rick Rubin e Jacknife Lee surge no mínimo como um desafio para a banda de “superar” o anterior, mediano, “Make Believe” (2005). Uma das alternativas para isso foram as músicas antigas, lado “B”, demos que Rivers Cuomo, vocalista e guitarrista, havia gravado no período de 1992 até 2007, inclusive, lançadas num disco pela Geffen: “Alone: the home recordings of Rivers Cuomo”.

As fórmulas para um bom “single”, para o powerpop do Weezer, funcionam na maioria das vezes. Especialistas em criar refrões grundentos e músicas colegiais, o Weezer possui força tanto para o lado do pop, como o do rock, a lembrar os seus discos: Green Album (2001) ou Maladroit (2002). Ao abrir o disco com “Troublemaker” há a certeza de que ouvimos o velho Weezer, com um espírito um tanto mais teen, voltado para o pop. O primeiro single, “Pork and Beans”, o grupo mais maduro, com melodias que crescem, guitarras sempre impecáveis e toque de piano. Viu como a fórmula deles funciona? Algumas músicas fazem parte de demos antigas, colocadas em novas roupagens, ouça “Dreamin’” e logo compreenda o que é uma música antiga num álbum novo, um pouco de quebra de clima, mas não deixa de ser aquela canção melosa e saudosista que Cuomo talha com carinho.

O Red Album apresenta uma maior interação dos outros integrantes da banda. O baixista Scott Shriner canta “Cold Dark World”, uma canção forte em seu refrão, na companhia da voz de Cuomo, numa instrumentação perfeita; em “Thought I Knew”, é a vez do guitarrista Brian Bell assumir os vocais, uma melodia simples e batida, levada pelo violão, que não apresenta novidade; por fim, o baterista Patrick Wilson canta “Automatic”, um rock meio preso nas suas letras que não estão em sintonia com a melodia?! Há de se comentar que todos são afinados, cantam legal, porém, quando o disco está perto do fim, temos “The angel and the One”, em que os sentimentos de Rivers são colocados para fora numa canção grandiosa e aí surge todo o brilho de sua voz, que dispara na frente dos outros. Aliás, uma música que dispara na frente do álbum, como os próprios integrantes da banda afirmam: “um dia sentei com meu violão e comecei a tocar esta música repetidamente. Meus dedos cortaram tanto, mas eu só continuava a tocá-la” – afirma Patrick Wilson.

Há de se falar também na imprevisível “The Greatest Man That Ever Lived (Variations On A Shaker Hymn)”. Rap (explorado igualmente na animada “Everybody Get Dangerous”) misturado ao powerpop e Queen, nas influenciáveis óperas. Audacioso, o Weezer ainda traz covers de The Band, como faixas bônus. Na versão brasileira, a música “The weight” aparece numa versão um pouco mais rápida, mas bastante fiel à versão original, ao mesmo tempo parece uma canção do Weezer, pelas guitarras e backing vocals. Boas lembranças, bom resgate.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Golpes de Atari


Crystal Castles

Disco: Crystal Castles

Ano: 2008

Lies/ Last Gang

16 Faixas


Dentre as várias cenas e tendências da música eletrônica, encontramos um tipo peculiar, que vem sendo cada vez mais explorado ultimamente, em clubes especializados, geralmente, metropolitanos, seja para dançar, ou escutar ali quietinho. O eletro house, o punk e o rock se encontram novamente. Instrumentos elétricos unem-se aos eletrônicos, formando o som das novas gerações. É o próprio som da cidade, urbano: desesperador, egocêntrico, minimalista. Uma fuga propriamente dita, no caso de Crystal Castles, duo de Toronto. A vocalista, Alice Glass, esconde sua voz por trás de efeitos, gritos e sussurros, enquanto as batidas eletrônicas de Ethan Kath dão o panorama métrico de cada sentimento ali contido.

Imagine uma geração criada em torno de video games, aparelhagem eletrônica, de uma vida urbana acentuada, embebedadas pela música eletrônica alemã e pelo tédio. Tudo começou com uma simples brincadeira de gravar músicas no lap top e coloca-las no My Space. Num teste de microfone, fez-se o primeiro single “Alice Pratice”, destruidor em gritos de Alice Glass, poderosa. O que era para ser teste resultou num quase Sonic Youth eletrônico. Com uma forte influência oitentista, o Crystal Clastles lança seu primeiro disco, homônimo ao nome do grupo. O duo, formado em 2004, declara-se fã de algumas bandas contemporâneas, como o Klaxons e Bloc Party, ao lançar remixes destas duas. Mas não se vê uma influência direta, em grande parte do disco.

Música eletrônica é a primeira definição a ser colocada aqui. Neste quesito, temos grande exploração de sintetizadores e vozes modificadas, além, claro das batidas ambientes. Por outro lado, Alice declara em tom punk: “queremos que as pessoas sintam náuseas”. E se é isso que querem, conseguem, muitas vezes. Vozes são vomitadas, enquanto temos vontade de simplesmente dançar, deixar levar-se pela emoção dos sintetizadores minimalistas. Uma distorção sempre presente, um sentimento dark aproximando-se do The Knife, em “Siilent Shout”. Tudo interligado.

Composições como “Crimewave”, com colaboração de Health, “Vanished”, ou “Untrust us”, definem o que há de melhor dessa mistura. O disco está forjado dos sentimentos mais sujos aos mais surreais. Altamente denso. Mesmo nas melodias pop, um insegurança e um mistério surgem. São as vozes modificadas num ar soturno, é o eletrônico entrando em decomposição. É como Primal Scream, em XTRMNTR, chegando à insanidade, mais eletrônico, entretanto.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

O jovem artista




Fortaleza, 24 de maio de 2008

Quem será Vitor Araújo? Está é a pergunta que me fizera outrora, antes de seu show. Apesar de assistir aos seus vídeos, ouvir suas belas versões para piano de músicas como “Asa Branca” e “Paranoid Android”, gostaria de conhecê-lo mais a fundo. Seus pensamentos, suas propostas, sua performance e seu carisma no palco. Estava confiante numa boa apresentação, mas tais perguntas ainda me sondavam.

Antecipadamente, uma apreciação ao Teatro José de Alencar de Fortaleza: grandioso, charmoso e agradável, do mesmo jeito que havia visto tempos atrás. Ali perto um painel no qual o menino de 18 anos pisava em seu piano. Era Vitor e aquilo foi necessário para me deixar mais curioso. Como assim pisar num piano? Lá estava ele em pé, com seus tênis all star na foto. E fiquei pensando em toda sua formação clássica ao instrumento e nessa quebra, esse choque que me foi apresentado em forma de uma atitude nada comum para um concertista. O que os outros ali pensavam? O que se passava na cabeça daqueles senhores e senhoras ao ver determinada imagem? Bem, a surpresa viria...

Dei uma volta por fora do Teatro. De repente, reparo num rapaz que me olhou fixamente, mas que tinha passos apressados. Viro-me e penso duas vezes. Assustado, concluo: aquele era Vitor Araújo! Gritei seu nome, ele olhou, mas nada que o parasse. Arrependi-me de não segui-lo. Uma vontade enorme de conversar me atingiu. Mas, bem, “ele estava indo para um momento de concentração”, pensei. Agora era tempo de escolher um lugar e esperar por sua música.

Sentei-me na diagonal, no andar de cima, de forma que eu veria Vitor quase de perfil e parte de suas mãos nas teclas. No palco, um piano de calda e uma luz branca em forma de círculo. O Teatro, com capacidade para 800 pessoas, encontrava-se levemente cheio. Após recomendações e um pequeno discurso do projeto Vida, subia ao palco o astro da noite, com sua humilde camiseta azul marinho e calça jeans. Entrou e tocou as primeiras notas em pé, bateu no piano e dedilhou as cordas, com sua audácia efervescente. Logo, uma versão de “Asa Branca” surgia e virava filme para quem o assistia. Vitor “brincava” ao piano. Era cômico, por vezes, delicado e, por fim, verdadeiro nos seus tons maiores e menores. Lembrava-me o nordeste mesmo seco ou chuvoso, as crianças, a natureza. E o menino estava ali executando uma “Asa Branca” só dele, incomparável. Com um ótimo começo assim, ainda iríamos longe. Todos boquiabertos enquanto a outra canção era de Yann Tiersen, que compôs a trilha do filme “O fabuloso destino de Amélie Poulain”. Depois veio Chico Buarque em seu repertório de bom-gosto. Sua habilidade ao piano era encantadora, assim como seus arranjos. A partir daí, o pianista começava a se soltar mais em suas falas e ao instrumento. As lindas composições de Heitor Villa-Lobos cabem brilhantemente no repertório. Enquanto Vitor falava em sentimentos, de sentir a música e esquecer dos problemas cotidianos, partíamos para o surreal.

O vibrante som do piano dava arrepios. Em uma de suas composições Vitor pediu silêncio para que a música chegasse até nós, como um todo, e uma pouco de nossa ajuda para um breve vocal. Veio o silêncio total e as notas soavam leves. Nesse momento era como se fossemos tele transportados para um lugar dos deuses. Apenas duas notas saiam do coro/público, preenchendo o local, criando o momento mais bonito da apresentação. Vitor agradecia-nos. Entramos em comunhão naquele momento. E o menino vindo de Recife podia muito mais. Encerrava o espetáculo com uma belíssima interpretação de “Trenzinho Caipira”, misturado ao jazz e canções para crianças. Tocava de pé, batucava ao piano, fazia graça. O “bis” veio marcado por “Paranoid Android”, dos ingleses do Radiohead, a pedidos da platéia. E, realmente, foi um final excelente, com direito a um passeio por todas as fases/períodos da música erudita, improvisadas ao jazz e rock. Vitor, sempre humilde e feliz, se despedia. Eu, já emocionado, não acreditei no que tinha presenciado naquele momento. Quis correr para falar com Vitor. Mas não precisava mais, poderia ser outra hora. Eu já o conhecia.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Love is in the Air



Hercules & Love Affair

Disco: Hercules & Love Affair

Ano: 2008

DFA Records

10 Faixas



Que New York é um pólo de grandes nomes da música contemporânea, ninguém pode negar. De lá surgiu mais uma grande surpresa de 2008: o projeto Hercules & Love Affair, comando pelo DJ Andrew Butler. No disco homônimo ao projeto, há o eletrônico dançante, seja Disco, ou House, com participações especiais de Antony Hegarty (do Antony and the Johnsons), Nomi e Kim Ann Foxman.

O dance americano nunca esteve tão perto de um experimentalismo como este. Andrew Butler, que desde os 15 tocava em festinhas e já compunha algumas músicas, foi responsável por criar o H&LA. Ao ponto de tremer as estruturas da dance music, Butler buscou em Kraftwerk, no pop 70’s e 80’s e nos vocais mais desafiadores de todos a fórmula para seu disco. Para quem nunca imaginou Antony cantando outro estilo, é tempo de ouvir canções como “Blind” (primeiro single), “Raise me up”, ou “Time will”, além dos backing vocals emocionantes e criativos. Mas não é só Antony que faz bonito no álbum, Kim Ann Foxman dá vida a musica “Athene”, numa batida dançante a lembrar Daft Punk, sua voz enigmática ecoa.



Melodias são presenteadas com violões, teclados e batidas eletrônicas, enquanto a delicadeza de cada vocalista transporta-se a nossa percepção. Dentre canções melódicas como “Time will” ou “Iris”, fica a lembrança da dupla francesa, Air. As mais dançantes compõem o álbum em sua maioria e ganham arranjos vanguardistas como em “Hercules’ Theme” ou “Raise me up”. O single Blind é a pérola do disco, tanto em composição ou interpretação de Antony, que demonstra mais uma vez seu potencial como um cantor para ritmos variados. Nesta música, tudo se encaixa perfeitamente, seja na letra combinada a voz de Hegarty, ou nas batida que alcança proporções exatas quanto ao dance.

Outras experimentações são extremamente interessantes, quando teclados e trompetes atacam de surpresa em melodias “clean”, a exemplo de “This is my Love”. “You Belong” e “True False, Fake Real” roubam um pouco de experiências do pop eletrônico. Por fim, resta-nos “Easy”, a mais intimista do disco, a contar histórias por sussurros, enigmática e reveladora, Björk iria gostar, não?! Butler, certamente acertou em escolher seus parceiros. Porém, olhando pelo viés contrário, incorpora algo simplista em seu eletrônico. As batidas comuns às vezes se repetem por toda música. Mas o que está contido aqui e se revela é um som ambiente, mesmo que dançante. Bom ou ruim, cria-se um estilo, uma maneira própria de se compor.



*MySpace: http://www.myspace.com/herculesandloveaffair

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Folk, freak, folk


The Dodos

Disco: Visiter

Ano: 2008

French kiss

14Faixas




O folk vive uma revolução. Ou evolução? Bem, os termos entram em choque, quando ainda é um pouco cedo para afirmar algo concreto sobre bandas novas que aderem ao folk. Mas o estilo passa por mudanças, acoplando-se a outros ritmos, incorporando-os ou resgatando suas raízes mais distantes. Não é à toa que nascem nomes como folktronico, freak folk, anti-folk ou apocalyptic folk. O Freak Folk, mais precisamente, é nome designado para as bandas que apareceram nos anos 2000, como Joanna Newson, Devendra Banhart, Sufjan Stevens e Animal Collective.

Nisso, surge The Dodos, banda californiana, um duo de violão (Meric Long) e bateria (Logan Kroeber). E, em seu terceiro disco, “Visiter”, completam os nomes de bandas/cantores citados acima. Completam no sentido de realmente contribuir para o “movimento folk”. Uma combinação mutante entre batidas fantasmagóricas, da percussão de Logan, violão criativo e voz cativante de Meric Long, criam ambientes múltiplos. Desde um folk mais tradicional, como percebemos em “Walking” e “It’s the Time Again”, ao freak, com direito a gritos, nas preciosas “Fools” e “Joe’s Waltz”. Alguma semelhança com Animal Collective? As baterias progressivas, cheias de tambores graves fazem nos crer numa parceria com a banda. Mas nada disso, há uma incorporação, meras influências que geram uma das percussões mais criativas já feitas.

O tema bucólico ainda pode ser observado em algumas letras. Mas o novo folk permite-se falar de amor, questionar Deus e falar de coisas contemporâneas. Experiências com o psicodelismo deixam o disco mais interessante ainda. Pelo meio de “Paint the Rust”, temos um violão distorcido, que complementado ao slide nas mãos de Long, lembram Jack White nos momentos de surto. “Jodi”, com sua percussão nervosa e violões acentuados, compõe um ritmo entre o rock, nas melodias; folk, nos detalhes; e pop no refrão grudento. Em “Visiter”, as músicas, ora podem alcançar sete minutos, cheias de movimentos, ora atravessam mensagens de segundos.

The Dodos provam que também são bons em melodias lentas. “The season” possui uma delicadeza profunda, em seus vocais e violões. Entretanto, transforma-se em batidas primitivas e vozes do além. “God?” é extremamente poderosa, com seus devaneios, gritos e questionamentos. O folk independente nasce com espaço para brilhar e em 2008 já mostra suas virtudes.





segunda-feira, 14 de abril de 2008

O rock de garagem abalado


The Kills

Disco: Midnight boom

Ano: 2008

Domino Records

12 Faixas









Ao recapitularmos os trabalhos já lançados do The Kills, “Keep on Your Mean Side” (2003) e “No Wow” (2005), temos um rock de forte energia, aliado ao blues, guitarras barulhentas, a voz de Alison Mosshart e a tímida bateria eletrônica. Ainda que no segundo disco apareçam harmonias mais cativantes, a dupla, com sua imagem pós-punk, lança seu terceiro disco, “Midnight Boom”, talhado em boas expectativas por parte de fãs e crítica.

“U.R.A. Fever”, como primeiro single, saíra antes mesmo do disco neste ano. E a primeira impressão surge: nada demais, para quem esperava algo visceral, inovador ou ainda mais sujo. Pelo contrário, melodias simples, de tendências pop, onde não há sequer um grito de “VV”, apelido de Alisson Mosshart. As vozes do guitarrista Jamie “Hotel” Hince e da vocalista se encaixam muito bem, porém, isto não é novidade, assim como a composição da música. Esta é a história do single que não ajudou a compreender o disco que viria. Apenas deixara rastros de um disco possivelmente mediano. Entretanto, singles não costumam ser o sinônimo de uma obra completa e, por incrível que pareça, costumam ser músicas medianas, senão ruins. Vale colocar isso para muitas gravadoras que estão lançando seus artistas, com raras exceções, obviamente.

O terceiro disco veio a mostrar-nos outras habilidades da dupla. O que se pode dizer de “Midnight Boom” é que as batidas eletrônicas ganham maior espaço, assim como a voz de “Hotel”. Guitarras detalhistas, o som também encontra-se mais “limpo”, em sua integridade, no quesito de produção. A veia pop-dance aparece para surpreender em músicas como “Cheap and Cheerful” ou “Tape Song”. Porém, esta última se transforma num refrão arrasador, quando VV, acompanhada de guitarras distorcidas, faz brilhar o punk. Estão aqui também canções que poderiam muito bem se encaixar em disco anteriores, pela própria gravação e barulheira: “Hook and Line” ou a sombria/grunge “Alphabet Pony”.

Algumas harmonias e dissonâncias fazem lembrar Sonic Youth e Primal Scream na fase de misturas eletrônicas, em “Last day of Magic” ou “M.E.X.I.C.O.C.U.”. Drogas e rock’n’roll são temas de algumas letras. O visual preto continua o mesmo, embalado por certo pessimismo e escapismos. Apesar de apostar em batidas eletrônicas dançantes, com direito a palminhas, o Kills sempre vem armado de ao menos uma boa canção acústica, nos seus dois discos anteriores. E, desta vez, “Goodnight Bad Morning” fez mais do que sua parte no disco. A música é de uma delicadeza extrema, ao som de piano, violão e vozes da dupla.

Perdeu-se um pouco do rock de garagem para a chegada do pop-eletrônico. Até aí tudo bem, há mudanças que vêm para o bem. Mas quando o mais forte do Kills eram guitarras distorcidas, plugadas a mais de um delay, e a bela voz de VV ecoando no palco, trocou-se algo que era único, comprometendo, em partes, o “Midnight Boom”.

quarta-feira, 26 de março de 2008

A garota russa perdida no espaço



















Devotchka

Disco:
A Mad & Faithful Telling

Ano: 2008

ANTI-Records

10 faixas


Depois de um EP que merece notável destaque no cenário de rock alternativo, intitulado “Curse Your Little Heart” de 2006, e um disco romântico e enigmático “How It Ends”, de 2004, o Devotchka volta com suas influências latinas e leste-européias mais afiadas do que nunca em 2008. “A Mad & Faithful Telling” nos traz qualidade instrumental impecável, ritmos incomuns dançantes ou por vezes melosos, e letras que falam de fé e amores incompreendidos emergindo culturas várias ao passo que Nick Urata canta versos em espanhol as músicas “globais”, digamos assim.

Aqui é quando o México encontrou a Grécia, ou a Índia encontrou o bolero, numa interpretação americana. Parece estranho, mas para quem conhece o grupo, sabe o que são capazes de fazer. Ouça a primeira faixa “Basso Profundo” para encontrar um Devotchka bem animado fazendo um trabalho muito parecido com os discos anteriores. Mas a noção de um refrão pegajoso (este pode ser só um backing vocal com vocais “uuuhll”), vem a surgir por meio de viagens por cantigas psicodélicas. Um fato interessante neste disco: o psicodelismo tímido. Vão aparecendo notas dissonantes, volumes que crescem ou decrescem, detalhes aqui e ali de eletrônico.

As canções românticas e nostálgicas ganharam um espaço relativamente alto em “A Mad & Faithful Telling”, disco com apenas 10 faixas, sendo duas instrumentais (por sinal ótimas experimentações com violinos e acordeom, a lembrar Yann Tiersen). Se antes tudo era alegre e dançante nas composições anteriores, temos três canções realmente afiadas que traduzem o romantismo de forma sincera, cativante e atual. São elas: “The Clockwise Witness”, “Undone” e “New World”, filhas da boa canção “How it Ends” ou fazer inveja ao Arcade Fire.

O tanto que se preservou neste quinto disco, na questão de instrumentação e estilo, também se experimentou com influências da música moderna, em refrões (“The Clockwise Witness”), batidas emprestadas do rock (“Transliterator”), e backing-vocals cativantes (“New World”). Esta “salada” representa uma valsa-rock-moderna em “Blessing In Disguise” ou uma psicodélica-balada-mexicana em “Along the Way”. O tão experimental Devotchka encontra seu caminho a cada disco que lança, sob doses da música que resgata a multi-cultura, o melancólico e a antítese.

terça-feira, 11 de março de 2008

Jonny, o Compositor - A pluralidade de um guitarrista

Não faz muito tempo, o Radiohead havia estourado nos anos 90. A canção visceral “Creep”, embalada pela MTV, ganhara um lugar no coração dos jovens. Por detrás da voz melancólica de Thom Yorke, guitarras explodiam e ganhavam vida ao movimento frenético impulsionado pelo coração de Jonny Greenwood. Foi quando tudo começou.

Os cabelos no rosto e suas performances meio tímidas, desafiadoras e agressivas por minutos, eram marca registrada de Jonny. Com sua velha Fender Telecaster, emergia do Radiohead como um ícone. Surgia como um anti-herói da guitarra, assim como Frank Black do Pixies, ou o próprio Kurt Cobain, sem vomitar solos ou fazer poses. Em “Pablo Honey”, primeiro disco da banda, gravado em três semanas, riffs rápidos e agudos marcam a personalidade do guitarrista. Além da “pegada” forte, Jonny mostrava-se um músico capaz de arranjar pianos e experimentar múltiplos efeitos nas composições do grupo.

Entretanto todas as evoluções, experimentações e harmonias não aconteceriam se o Radiohead não seguisse o caminho de sempre buscar o novo. O segundo disco, “The Bends”(1995), veio de uma fase de composições mais depressivas, segundo Thom Yorke, após a turnê do disco anterior. E com isso, vieram músicas como “Fake Plastic Trees”, “My Iron Lung”, “Street Spirit” e “Just”. Nesta última, Thom diz que havia uma competição entre ele e Jonny para saber quem colocava mais acordes na música. O duo criativo do Radiohead, então, ganha capas de revistas para explicar as composições e uma possível relação homossexual, que acabou sendo desmentida.

A música profunda do Radiohead parece brotar das veias de Jonny e Thom, quando em cima do palco. E daí mais instrumentos vão aparecendo ao lado de Greenwood, que outrora apenas pensava tocar sua guitarra na banda. A criação de um ambiente soturno já pode ser vista em músicas como “Bullet Proff...I Wish I Was” ou “Sulk”. Dissonâncias, novas melodias são buscadas até chegar ao “OK Computer”(1997), fase em que Jonny pode mostrar uma transição em seu estilo de compor. As guitarras distorcidas ficam mais a margem do disco, dando lugar a harmonias complexas, experimentadas em teclados plugados a efeitos diversos, sintetizadores, loops em seu próprio instrumento, xilofone e efeitos de lap top. Um disco que marcou a história do rock, e o Radiohead sempre a provar que poderia evoluir nas composições. Basta ouvir as guitarras dedilhadas que se transformam em três, quatro ou cinco em “Let Down”. A potência da harmoniosa “Karma Police”, a sinfônica “Paranoid Android” e a sombria “Climbing Up the Walls”.

As mudanças estão por toda parte, há o psicodelismo, influências eruditas, que, aliás, estão nas veias de Greenwood, que quando pequeno estudou viola e recentemente compõe, em carreira solo, para orquestras. O “OK Computer” marca também o início de letras escritas por Jonny, como “The Tourist”, que vem ao caso. A música faz menção aos turistas americanos em Paris. Jonny os observara agitados, enquanto estes queriam ver a cidade em 10 minutos, porém, não enxergavam a verdadeira beleza do lugar. “Hey, man, slow down, slow down, slow down, idiot, slow down, slow down!”, repete o refrão cantado por Thom Yorke. Uma guitarra bem trabalhada, vozes em coro reproduzidas por sintetizador, compõe “o ambiente perfeito para encerrar o disco”, afirma Greenwood.

Após toda popularidade e aclamação do “OK Computer”, Thom Yorke declarou passar pela depressão: uma nova fase do Radiohead estava para nascer. Trancados em estúdio, gravaram dois álbuns: “Kid A” (2000) e “Amnesiac” (2001). Havia um espírito embalado por experimentações, ao estilo minimalista vindo do Jazz, no pensamento de ir sempre além do que já haviam experimentado. O Radiohead passa a compor músicas de tons eletrônicos, com as vozes de Thom modificadas no computador. Há também arranjo de metais, baterias desafiadoras, novos instrumentos, cordas, e uma grande aparelhagem ao redor dos músicos. As guitarras passaram para segundo plano, enquanto Jonny dava mais ênfase aos teclados, lap top e seu novo instrumento: as Ondas Maternot, presente em músicas como “The National Anthem”, “How to Disappear Completely” e “Pyramd song”. O lado obscuro da banda, assim como as composições do guitarrista para seu novo instrumento, traria conseqüências para seu histórico de músicas solos. Suas ondas soam profundas, e daí surgiriam, em breve, pensamentos para uma orquestração nascente desde esses tempos. No palco, não seria possível saber qual o próximo instrumento que Jonny utilizaria: era um músico rodeado por seus pedais, guitarras, teclados, lap top e outros.

"Ondas Maternot"


O Radiohead destacava-se por ser diferente, trazendo, com qualidade, novas possibilidades para a música moderna, ao mexer com variados estilos, criando um pandemônio de letras e melodias, vista por muitos como depressivas, estranhas, por vezes, ou “geniais”(!). O tempo passou, até que foram considerados “os melhores do mundo” por várias mídias. E veio outro baque para Thom e seu grupo. A banda daria um tempo para “respirar”. Cada um no seu canto, possibilitando o trabalho solo de Jonny Greenwood, e o posterior trabalho do Radiohead, intitulado Hail to the Thief.

O primeiro trabalho solo de Greenwood trazia um ambiente soturno, recheado de experimentações, que vão de percussões, até um diálogo entre teclados e cordas (no caso, viola, seu instrumento). “Bodysong”(2003) veio como idéia para trilha sonora de um filme homônimo, documentário, de Simon Pummell. Batidas eletrônicas são ouvidas, enquanto Jonny mostra-se um eficiente compositor, ao dar vida para o filme, no casamento de imagem e som. Algumas músicas que tomam o jazz como referência, “Splitter” e “Milky Drops from Heaven”, ganharam a participação de seu irmão Colin, baixista do Radiohead. A melancolia mistura-se ao energético. O caótico à harmonia. Antagonismos se cruzam para a fórmula eclética de Greenwood. Entre o erudito em sua forma completa temos “Tehellet” e “Peartree”. Outras, como “Covergence”, dedicam-se a quatros minutos de percussões sobrepostas. Jonny utiliza-se de banjo, eletrônica e baixo para fazer a obscura “24 hours Charleston”. O potencial do compositor, o primeiro do Radiohead a lançar disco solo, revela-se em estrutura ampla. A visão musical de Jonny atinge rumos certeiros, quanto ao futuro da música.

"Bodysong"

No mesmo ano, “Hail to the Thief” dá um novo ar à banda que parecia submersa entre fantasmas. Guitarras reaparecem logo na primeira faixa (2+2=5), e ótimas composições surgem para a reafirmação da banda no cenário mundial da música. Composições de Jonny, como “Wolf at the door” e “There There” (em parceria com Yorke), remetem a um segundo “OK Computer”, visto por alguns críticos. A banda, em turnê, faz grandes apresentações como no festival de Glastonbury 2003. Em "There there", Jonny está com suas percussões a anunciar o primitivo, a decadência e o desespero de um futuro apocalíptico. Logo sua guitarra sobrepõe a melodia num dedilhado único, criando atmosfera para a música monumental, esta que acaba mostrando também a forma agressiva que Jonny encontra para se expressar.

Foi em 2004 que Greenwood entrou para a BBC Radio 3 de Londres como músico residente. Lá lançou três composições para as Ondas Maternot e orquestra: Smear, Popcorn Superhet Receiver e Piano for Children. Mais uma vez entre o caos e a harmonia, Jonny mostrava-se criativo e desafiador. Sua composição de quase vinte minutos, Popcorn Superhet Receiver, ganhou prêmio da BBC, por meio de votos de ouvintes, em 2006. Complexa e cheia de intimismo, a música que conquistou os ouvintes ingleses, deu a Jonny um reconhecimento ainda maior e um certo otimismo em continuar seus trabalhos orquestrados.

"Jonny e orquestra"


Como pano de fundo, temos o Radiohead sem gravadora (terminado o contrato com a EMI). Preparando o novo disco e divulgando músicas novas, a banda estava numa indecisão de como lançaria o então intitulado “In Rainbows”. Experimentações entre esse período são muito válidas, como o encontro de Thom e Greenwood no Ether Festival, executando “Arpeggi/Weird Fishes”, música depois adaptada para guitarra, baixo e bateria. Um encontro excepcional, a partir de uma música climática, que fez Thom Yorke se emocionar.

Greenwood avançara ao passo de levar um pouco dessas orquestrações para o Radiohead, no "In Rainbows" (2007), mais recente disco do grupo. As percussões em “Videotape” e as cordas em “Down is the New Up”, “Nude” e “Faust Arp” demonstram. Um trabalho que está resumido em tudo que o Radiohead já passou, já foi e ainda é. Depressivo, visionário, inovador e criativo.

O adjetivo “estático” definitivamente não cabe para Jonny, que além de um disco duplo de sua banda, vem a lançar seu segundo disco solo, trilha sonora para o filme de Paul Thomas Anderson, There will be blood (Sangue Negro, no Brasil). O longa-metragem joga-nos para o início do século XX, final do XIX, contando a história de um ex-minerador, que envereda pelo ramo do petróleo no interior do EUA. Num choque de imagens, ao começar pelos 11 minutos iniciais do filme sem diálogos, vemos nascer a obra de Greenwood. Forte, assim como a interpretação de Daniel Day-Lewis, num “empresário” nômade e solitário, Daniel Plainview, em busca de dinheiro em terras desertas.


Plainview é uma personagem compulsiva, na trama. Seguindo o rastro do dinheiro, Daniel tem uma relação complicada com todos que estão ao seu redor. Uma auto-destruição então é iniciada a partir de suas compulsividades e distúrbios psicológicos. O filme, baseado no romance “Oil” (1927), de Upton Sinclair, investe nessa corrida pelo ouro negro, abrangendo toda a paisagem, costumes e religião no começo de uma era industrial.

There will be blood torna-se grandioso por sua fotografia, que se alia às poderosas composições de Jonny Greenwood para o filme. Imagem e trilha são melhores compreendidas quando em conjunto. O suspense presente em músicas como “Future Market” (esta faz lembrar músicas dos filmes de Hitchcock) ou “There will be Blood” marcam Plainview em seus momentos mais insanos. Dissonâncias fazem parte da obra em sua maioria. Contudo, as harmoniosas “Open Spaces” e “Prospectors Arrive” estão dentro de um tema tênue no filme, que se encaixa na relação pai e filho. A última citada possui um piano de temática progressiva, que é tocada quase por completa no filme. As artes se encontram para nos presentear com uma só apreciação.


“Para fazer um filme, o grande colaborador final que você possui é o compositor. Jonny foi realmente o primeiro a ver o filme. E quando ele voltou com um apanhado de músicas, isso de fato ajudou-me a conhecer sua impressão sobre o filme. E foi incrível, pois não tinha idéia do que havia feito.” – considera Paul Thomas Anderson, em entrevista para From Entertainment Weekly (EW). Greenwood lembra que Paul gostaria de algo próximo a trilhas do gênero horror. Entretanto Jonny, de fato, preenche o filme não com uma trilha deste gênero, mas próxima da escuridão, em que os fatos vão levando.

Anderson, ao confiar plenamente nas composições de Jonny, trabalhou em parceria com este, pode-se dizer. Os elementos acústicos colocados sob medida no filme dão o subjetivismo necessário à arte. E se Thom Yorke já disse recentemente na Rolling Stone nacional nº17, que “Por alguma razão, nós (Radiohead) pensamos demais. Somos atores do método. Para nós, é sempre difícil.”, comprova-se um trabalho de Jonny Greenwood elaborado por um esforço que valeu ouro.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Hot hot hot chip


Hot Chip

Disco: Made in the Dark

Ano: 2008

EMI, DFA, Astralwerks

13 Faixas




Dentre as bandas eletropop, que às vezes embalam a onda “New Rave”, está o Hot Chip, lançando seu terceiro disco “Made in The Dark”. Adentrando sua passagem tímida pelo Tim Festival 2007, num período meio conturbado para a banda que estava em fim de turnê, verificou-se a incógnita que seria o disco. Se, ao explorar músicas mais intimistas no segundo disco, “The Warning”, continuariam num caminho a fundo com músicas minimalistas ou haveria surpresas para o novo álbum.

Veio “Made in The Dark”, ao contrário, a explorar músicas maximalistas, na maior parte do disco, como afirma o próprio Alexis Taylor, cantor, líder da banda. Algumas influências, citadas por ele, chegam ao Heavy Metal, Prince, Beatles. Apesar disso, o techno alemão é bem perceptível nas faixas deste disco. Guitarras estão mais visíveis e compõe algumas baladas como a canção homônima “Made in the dark”. E se há algo que o Hot Chip sabe criar bem são os climas recheados de vocais, teclados e compassos lentos. Vemos no disco músicas como “We’re Looking for a Lot of Love”, “Whistle for Will” e “In the Privacy of our Love”, compondo a metade mais melancólica e lenta, baladas que Taylor diz adorar. Estas remetem aos anos 80, por vezes, ou de influências radioheadianas.

Entretanto, vamos à parte mais excêntrica, que integra o disco em maioria. “Out at the Pictures”, faixa que abre o disco, é animada, refletindo que o Hot Chip é, sim, o dono da festa. O primeiro single, “Shake a Fist”, começa com batidas dark, e elementos não muito comuns na banda. Atinge pelo meio batidas eletrônicas fortes, possivelmente tiradas do funk carioca. “Ready for the Floor” foi o segundo single mais pop de todos que alcançou a sexta posição na “UK singles Chart”. De certa forma, a música define o que se chama eletropop, deriva de lados românticos e eletrônicos.

Músicas mais “maduras” aparecem, como “Touch too Much”, a própria “Made in the Dark”, “One pure Thought”, que puxa para o brit pop, ao começo e logo fica dançante. Um caso a parte aparece em “Wrestlers”, música em parceria com o LCD Soundsystem, que é no mínimo curiosa, pela sua letra cantada de forma rápida, teclados que surgem pelo meio e pelo tom pop, sem cair na mesmice. “Hold On”, faixa de seis minutos, define o por quê da new rave. Animada, criativa, dançante, ao passear pelas vertentes propostas.

“Made in the Dark”, enfim, define-se como um bom disco de eletropop, com faixas que cairiam bem numa festa eletrônica. Apesar das influências citadas, está compactado num formato que o Hot Chip propõe desde o início. Embora, para a música como um todo na carreira da banda, restringe-se, por vezes, em seus mecanismos ao compor.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Novos Vampiros de Nova Iorque


Vampire Weekend

Disco: Vampire Weekend

Ano: 2008

XL Recordings

11 faixas





O tempo passa e continuamos a ouvir que determinada banda será a salvação do rock a cada estação do ano. O novo rock caminha para estilos múltiplos definindo e buscando alternativas para necessidades consumíveis. Além disto, há uma combinação, misturas de ritmos e culturas, nem sempre compreendidas. Contudo, tendem a ser uma jogada positiva quando boas referências são buscadas na música.

Vampire Weekend vem a ser mais uma banda dessas que são lançadas primeiramente na internet. O som indie, que vem de New York logo gerou comentários na rede mundial sobre a banda que revelaria o novo rock. E seu primeiro disco lançado no começo de 2008, intitulado com o mesmo nome do grupo, aposta em uma mistura afro-western, ou afropop...

Porém, como toda banda de rock, Vampire Weekend bebe de fontes como Beatles, Talking Heads, um pouco punk, e de música erudita?! Bom, não se sabe o que realmente está levantado depois de tantas misturas musicais num único disco. Encontra-se músicas super simples como “Cape Cod Kwassa Kwassa”, “A-Punk”, com boas referências, mas instrumentalmente simples. Que não apresentam aquela energia do novo rock. Agrupam-se com estilos outros como o reggae, ou a leve batida afro, a tomar idéias de Paul Simon. Outras se assemelham com bandas nova-iorquinas que apostaram num estilo parecido: Clap Your Hands Say Yeah e The Walkmen.

"O nome da banda é Vampire Weekend. Somos especialistas em seguir muitos estilos"


Os momentos mais fortes e que superam tendências estão em músicas como “M79”, “I Stand Corrected”, “Walcott”, a primeira joga-nos para a indecisão acima: música erudita? São arranjos de cordas, floreios e a até a voz de Ezra Koenig que nos fazem pensar numa música moderna transcendente. Momentos em que a banda soa cheia. Se o Clash soube aproveitar o reggae, o Vampire Weekend soube aproveitar, além deste, a velha veia européia da música.

Nesta medida, há permissão para baterias desafiadoras, melodias mais bem formuladas, como as acima citadas, e um reggae moderno em “The Kids Don’t Stand a Chance”.

“Vampire Weekend” é um disco desafiador e não deixa a desejar, completa-se num ciclo de vertentes mais variadas possíveis, sem deixar o rock de lado.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Quando ninguém esperava, Black Mountain.



Black Mountain

Disco: In The Future


Ano: 2008


Jagjaguwar


10 Faixas






Num belo dia você junta seus amigos para tocar. E o que aparece entre o repertório? Hendrix? Pink Floyd? Led Zeppelin? Black Sabbath? Velvet Underground? Talvez Neil Young? Bandas e artistas que revolucionaram o rock, certamente, e que continuam a influenciar pelo menos noventa por cento de bandas iniciantes. E foram basicamente essas que possibilitaram o início de criação para a banda canadense Black Mountain, formada em 2004.

Um grupo de amigos e músicos, chamado Black Mountain Army, deu origem ao som de extrema diversidade e capacidade encontrado no Black Mountain. Em “In the Future”, segundo disco do grupo, há um som feito de rocha, impulsionado por misturas antagônicas. Do folk ao heavy metal, traçado por guitarras, sintetizador, baterias e vocais por vezes angelicais. O psicodelismo e o progressivo estão em jogo para reafirmar a tendência do chamado pós-rock. Mas não há somente isso, o lirismo possui força em canções que representam o folk-rock, formando o ecletismo da banda.


"Black Mountain"


Descrever o Black Mountain não é tarefa fácil. A diversidade encontrada aqui é pesada, como o próprio som do grupo costuma ser entre faixas às vezes de outro mundo. Ao começar por Stephen McBean, vocalista e guitarrista, que possui mais outras duas bandas: Pink Mountaintops e o Jerek with a Bomb. Stephen é um líder que coloca sua guitarra para falar, sendo romântica ou agressiva, ou combinando-a com seu vocal. Este, por sua vez, está atrelado à senhorita Amber Webber, cantora envolvida no Lighting Dust, assim como o baterista Joshua Wells. Nesta mistura de bandas e experimentos, viajamos no sentimentalismo, na angústia encontrada em Black Mountain.

Em “Stormy High”, faixa abre o disco, guitarras mudando de tom em solo curto, ouve-se os gritos de Amber Webber. Esta coisa cheia de formas, com fortes influências dos 70’s, descreve e define o som do Black Mountain. Porém, isto é só uma amostra curta do que virá pela frente. “Stormy High” nem é tão especial assim, por possuir uma fórmula curta. Poderia ser hit nos anos 70, e até confundida com uma música do Deep Purple. Na segunda, “Angels”, há uma virada de quase 180 graus. Uma melodia lenta, pulsante e contagiante coloca-nos em harmonia plena. As vozes de McBean e Webber se misturam e se encaixam com perfeição, num tom nostálgico. “Angels” é devastadora, ainda mais com o solo lá pelo meio da música. Metricamente perfeita, uma verdadeira canção.

"Stephen McBean"


Mas logo surge “Tyrants”, para completar outra virada. Ao começar pelo heavy-metal, sugerido no primeiro minuto de música, e logo depois um progressivo emergente das profundezas da bateria e baixo. Vem a voz lírica de Stephen, leve e limpa, enquanto teclado e guitarra dão corpo. A melodia é cortada outra vez por um violão e agora podemos viajar, como se ouvíssemos Pink Floyd. O vocal gritado de Amber é de dor. E em voz solo, ela pode realmente se soltar numa melodia mais agressiva. E chegando pelo quinto minuto, mais guitarras em crescente movimento, baterias explodem, o poder da banda se eleva. Em ritmo de viradas e mais viradas Joshua mostra sua bateria potente e sabiamente colocada. Voltemos ao lirismo e violão: viagem encerrada com perfeição de oito minutos.

E “Wucan” abre mais caminhos. Seus solos são contagiantes, guitarras falam, o sintetizador é bem colocado, vocais fazem sua parte em refrão: “So we can come together”. Amber sempre caindo com perfeição em suas passagens. Duas baterias compõem o fundo muito marcante. Surge o espaço de improviso para o sintetizador que sabe utilizar recursos incorporados. Um espaço zen, que nos sugere ir tão alto quanto o sol.

"Joshua Wells e Amber Webber"


A próxima faixa, “Stay Free”, tende ao folk, com vocais agudos de Stephen, violões e letra bucólica. Numa melodia bonita, que faz lembrar Neil Young, concentra-se em transmitir bons momentos. O sintetizador, pequenas passagens de violão e até mesmo um violoncelo no final fazem a diferença. “Queens Will Play” faz parte de uma nova seleção no disco. Começa soturna, com a voz tremida de Amber a nos falar de escuridão e demônios, a lembrar o velho Black Sabbath. Um coro surge de leve, encaminhado por guitarras e sintetizador, que explodem pelo final da música. O solo rasgado da guitarra de McBean faz lembrar os bons momentos de muitos guitarristas dos anos 70.

“Evil Ways” mostra um lado caótico da banda, onde tambores, guitarra e teclados são a exclamação do mal. Lúcifer é citado e a voz de McBean está realmente transformada. Solo enlouquecido em volume máximo, destruidor. Com um espaço mais uma vez para o baterista Joshua Wells mostrar sua habilidade. Então “Wild Wind” é a próxima canção. De tempo curto, mas de beleza inversamente proporcional a este. A música soa como a banda toda estivesse colocando seus sentimentos ali.


A gigante “Bright Lights”, de dezesseis minutos, tem pelo menos uns quatro momentos ou “movimentos”, que resumem todo o espírito da banda. Progressiva, agressiva, bela, atinge com todos os instrumentos nossos corações. Um bom rock, criativo e revolucionário por destruir preconceitos. Os vocalistas formam um diálogo e o dissolvem em inúmeras possibilidades de interação. Lá pelo meio, temos quase uma missa anunciada e tudo se reconstrói. Gritos libertários. Tudo em seu peso máximo, eles querem mais. Contudo, “Night Walks” vem encerrar o disco. Amber canta ao som único de um sintetizador. Sua voz ecoa. Parece um choro. A profundidade desta é de chamar a atenção. Ela é uma sombra e a noite anda por entre esta voz. O coro nos leva a outra dimensão. É a despedida, é a despedida.

Curioso? O ano mal começou e “In the Future” é o álbum que recebe destaques no Orkut e Blogs pela Internet.

My Space da Banda : http://www.myspace.com/blackmountain

domingo, 13 de janeiro de 2008

O que querem os Hives?


The Hives

Disco: The Black and White Album

Ano: 2007

Interscope Records

14 Faixas






Os suecos do The Hives sempre são lembrados pelos gritos de Pelle Almqvist ou pelo seu primeiro hit “Hate to say I told you so”. O que, certamente, são fatos indispensáveis. O estilo garage, meio punk com rock rapidinho, música de no máximo 3 minutos são decorrentes de todos seus discos. Porém, novidades aparecem no quarto disco da banda. Como toda banda de rock precisa evoluir para sobreviver, com Hives não foi diferente. E os estereótipos acabam conosco. Esperamos sempre o mesmo som da banda. Aí justificam: “os caras só sabem tocar aquilo mesmo”. Bom, mas se pensarmos assim, Radiohead nunca teria ido onde foi. OK?

Não que os rapazes sejam os melhores do rock atual, está longe disso. Mas conseguem fazer músicas com refrões desafiadores e agradáveis, coisa que muita banda anda com dificuldade, mesmo que isso não seja o mais desafiador do rock. O Hives mais uma vez faz um rock “primitivo”, com guitarra, baixo e bateria, em “The Black and White Album”. “Primitivo” é uma palavra forte, “básico” seria convencional. Entretanto, colocam elementos novos como um experimento dance ou uma música instrumental obscura. E, acredite, o tão famoso vocalista mudou um pouco sua voz gritada para isso.

“The Black and White Album” foi produzido por gente do pop como Pharrell Williams e do rock, como Dennis Herring e Jacknife Lee. Uma mistura notável neste álbum. Escute as duas primeiras músicas que iniciam o disco: elas poderiam estar em qualquer outro disco do Hives. São pegajosas, a primeira começa até com um grito, e respeitam a formulação de guitarras rapidinhas e batidas animadoras. O destaque para a segunda, “Try It Again” são os gritinhos infantis que caíram bem na estrutura, acompanhado por guitarras bases fortes, típicas de White Stripes. A quarta faixa, “Well, Alright”, segue no mesmo ritmo, animado, mas lá pelo meio uma queda: surpresa?! - Sim. São sintomas da mudança. Com “Hey Little World”, as guitarras providas de Whammy, estão a lembrar Jack White, mais uma vez. Ruídos e pequenas batidas eletrônicas aparecem, refrões e percussões que te pegam muitas vezes, rock sincero que dá para mexer os esqueletos.

A quinta música que compõe o disco, “A Stroll Through Hive Manor Corridors” é instrumental, lenta, de clima soturno, que poderia estar num disco do The Cure, quem sabe. Mas está aqui, perdida. Tanto que a próxima faixa repete a mesma estrutura básica já comentada. Um refrão seguido por teclado repetitivo, não é que parece com Killers? De onde vem essa coisa-máquina-pegajosa? Do power pop?! Chegamos, então, na faixa crucial, intitulada “T.H.E.H.I.V.E.S”. O baixo e guitarra parecem dark no começo, com aquela voz “Welcome”, mas quando surge a voz de Almqvist, o que é isso? A mudança pop, esse monstro que engole tudo pela frente hoje em dia. E essas letras citadas uma por uma? Copiaram do Hot Chip? Pelo menos ficou bem melhor...

E por falar em power pop é o que temos na faixa seguinte, “Return the favour”. Os gritinhos e guitarras, porém, lembram Ramones. Mais pegada pop na irritante “Giddy up”, de canto modificado, inspirado pelo rap. O disco nos mostra em maioria canções derivadas do punk. Mas o destaque está em “You dress up for Amargeddon”. O começo nem é tão inspirado, mas o refrão se encaixa com perfeição de um hino punk, algo único neste álbum.

Experimentos como na “Puppet On A String” são válidos. Piano marcante e vozes no pano de fundo. Algo que deu certo. Criativo e de qualidade. Chegamos à última faixa, “Bigger Hole To Fill”, que abrange pontos bons, como a batida meio influênciada pelo eletrônico, mas o refrão se torna repetitivo, ao longo do disco. Algo visceral é visto com raridade neste disco. E isto vai de encontro aos lançamentos anteriores da banda. Deixa a desejar em partes.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

A origem

No princípio era o rock'n'roll. Depois, somente rock. E hoje são mais de 300 variações dentre o estilo. E devemos muito às primeiras bandas, esquecemos um pouco disso às vezes. Sabe, conhecendo um pouco mais da história do rock, vemos o quanto esta é rica e fascinante.

Pegue Chuck Berry, Elvis, Bill Haley, Little Richards, Jerry Lee Lewis. E ainda outros mais como Louis Jordan ( o cara era maluco, com sua dança, usando seu sax e possivelmente precursor do "rap") e Bo Diddley que fazia músicas com um acorde apenas e uma guitarra que lembra até Sonic Youth(!). Estamos falamos somente dos anos 50. Este é basicamente o caldeirão que irá influenciar Beatles e Rolling Stones nos anos posteriores.

Peguemos então os Beach Boys, que não se limitaram ao Surf Music, criando seu disco Pet Sounds, rico e evoluido. Disco este que contagiou Paul McCartney e o levou a pensar em "algo" simplesmente assim como "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", um dos discos mais influentes de toda a história do rock.

A partir daí, temos rumos diversos para esperimentos. Veja também o Velvet Underground com seu som soturno, fazendo contatos com o Punk. Progressivo, Heavy Metal, Hard Rock. O Folk de Bob Dylan. E tudo começa a explodir.

Peguemos bandas atuais e ainda vemos características de bandas precursoras do velho rock. Num simples vídeo do Beach Boys enxergamos o Belle and Sebastian com suas mesmas experiências em vídeo. Nos riffs do Sex Pistols, Chuck Berry. Nas letras de Alex Turner, um pouco de Dylan. E é quando tudo se encaixa, tudo se entrelaça, está interligado.

Por isso afirmo, qualquer susto ou preconceito não convém.



* Pet Sounds - Beach Boys



*Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band - Beatles