sábado, 20 de março de 2010

Micachu & the Shapes - De volta ao navio abandonado


Micachu

Álbum: Jewellery

Ano:2009

Rough Trade Records & Accidental Records

13 Faixas






De letras fortes, melodias incomuns, de sons eletrônicos e instrumentos modificados, Micachu & The Shapes estão armados. A banda mais pop-underground londrina dos últimos tempos, formada pela jovem compositora Mica Levi, 22, lança seu álbum de estréia intitulado “Jewellery”. São 14 músicas que desafiam o punk e o “indie” contemporâneo, tanto pelas letras viscerais, como pelas composições desconexas e embriagadas.

A desconstrução é contínua no disco. Basta ouvir as três primeiras reveladoras músicas. A forma de compor de Mica é martelada, metrificada descontinuamente. O som cru e rasgado das cordas, inclusive de sua guitarra modificada, que tem o nome de “Chu”, se alia a sons excêntricos de teclados e efeitos eletrônicos. Apesar de definirem como “pop”, poucas são as músicas que encaixam em estilos pré-definidos. De um pop-paranóico, como em “Golden Phone”, do psicodelismo em “Floor”, e da eletrônica-shoegaze “Calculator”, nasce a singularidade de Micachu. A voz delicada de Mica, seja cantada ou falada, desperta-nos para um mundo desconhecido.

A experimentação, que abrange desde a utilização de sons raros a algo parecido com a “música aleatória” de John Cage, carrega a força da banda. Aliado a isto, temos um fundo real e raramente pop. Influências que poderíamos optar? Talvez Björk. E mais milhões de bandas introspectivas inglesas que surgiram dos anos 1990 até agora, que pulsam por uma música nova.

Por fim, “Jewellery” é um álbum de sensações, que vai do estranhamento à boa dose de experimentações estéticas positivas, para quem estiver preparado. Por exemplo, em “Sweetheart”, temos uma bomba de palavras que percorrem angústias e mil sentidos em 52 segundos. Um outro lado é mostrado na embriagada, sombria e minimalista “Guts”.