sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Quando ninguém esperava, Black Mountain.



Black Mountain

Disco: In The Future


Ano: 2008


Jagjaguwar


10 Faixas






Num belo dia você junta seus amigos para tocar. E o que aparece entre o repertório? Hendrix? Pink Floyd? Led Zeppelin? Black Sabbath? Velvet Underground? Talvez Neil Young? Bandas e artistas que revolucionaram o rock, certamente, e que continuam a influenciar pelo menos noventa por cento de bandas iniciantes. E foram basicamente essas que possibilitaram o início de criação para a banda canadense Black Mountain, formada em 2004.

Um grupo de amigos e músicos, chamado Black Mountain Army, deu origem ao som de extrema diversidade e capacidade encontrado no Black Mountain. Em “In the Future”, segundo disco do grupo, há um som feito de rocha, impulsionado por misturas antagônicas. Do folk ao heavy metal, traçado por guitarras, sintetizador, baterias e vocais por vezes angelicais. O psicodelismo e o progressivo estão em jogo para reafirmar a tendência do chamado pós-rock. Mas não há somente isso, o lirismo possui força em canções que representam o folk-rock, formando o ecletismo da banda.


"Black Mountain"


Descrever o Black Mountain não é tarefa fácil. A diversidade encontrada aqui é pesada, como o próprio som do grupo costuma ser entre faixas às vezes de outro mundo. Ao começar por Stephen McBean, vocalista e guitarrista, que possui mais outras duas bandas: Pink Mountaintops e o Jerek with a Bomb. Stephen é um líder que coloca sua guitarra para falar, sendo romântica ou agressiva, ou combinando-a com seu vocal. Este, por sua vez, está atrelado à senhorita Amber Webber, cantora envolvida no Lighting Dust, assim como o baterista Joshua Wells. Nesta mistura de bandas e experimentos, viajamos no sentimentalismo, na angústia encontrada em Black Mountain.

Em “Stormy High”, faixa abre o disco, guitarras mudando de tom em solo curto, ouve-se os gritos de Amber Webber. Esta coisa cheia de formas, com fortes influências dos 70’s, descreve e define o som do Black Mountain. Porém, isto é só uma amostra curta do que virá pela frente. “Stormy High” nem é tão especial assim, por possuir uma fórmula curta. Poderia ser hit nos anos 70, e até confundida com uma música do Deep Purple. Na segunda, “Angels”, há uma virada de quase 180 graus. Uma melodia lenta, pulsante e contagiante coloca-nos em harmonia plena. As vozes de McBean e Webber se misturam e se encaixam com perfeição, num tom nostálgico. “Angels” é devastadora, ainda mais com o solo lá pelo meio da música. Metricamente perfeita, uma verdadeira canção.

"Stephen McBean"


Mas logo surge “Tyrants”, para completar outra virada. Ao começar pelo heavy-metal, sugerido no primeiro minuto de música, e logo depois um progressivo emergente das profundezas da bateria e baixo. Vem a voz lírica de Stephen, leve e limpa, enquanto teclado e guitarra dão corpo. A melodia é cortada outra vez por um violão e agora podemos viajar, como se ouvíssemos Pink Floyd. O vocal gritado de Amber é de dor. E em voz solo, ela pode realmente se soltar numa melodia mais agressiva. E chegando pelo quinto minuto, mais guitarras em crescente movimento, baterias explodem, o poder da banda se eleva. Em ritmo de viradas e mais viradas Joshua mostra sua bateria potente e sabiamente colocada. Voltemos ao lirismo e violão: viagem encerrada com perfeição de oito minutos.

E “Wucan” abre mais caminhos. Seus solos são contagiantes, guitarras falam, o sintetizador é bem colocado, vocais fazem sua parte em refrão: “So we can come together”. Amber sempre caindo com perfeição em suas passagens. Duas baterias compõem o fundo muito marcante. Surge o espaço de improviso para o sintetizador que sabe utilizar recursos incorporados. Um espaço zen, que nos sugere ir tão alto quanto o sol.

"Joshua Wells e Amber Webber"


A próxima faixa, “Stay Free”, tende ao folk, com vocais agudos de Stephen, violões e letra bucólica. Numa melodia bonita, que faz lembrar Neil Young, concentra-se em transmitir bons momentos. O sintetizador, pequenas passagens de violão e até mesmo um violoncelo no final fazem a diferença. “Queens Will Play” faz parte de uma nova seleção no disco. Começa soturna, com a voz tremida de Amber a nos falar de escuridão e demônios, a lembrar o velho Black Sabbath. Um coro surge de leve, encaminhado por guitarras e sintetizador, que explodem pelo final da música. O solo rasgado da guitarra de McBean faz lembrar os bons momentos de muitos guitarristas dos anos 70.

“Evil Ways” mostra um lado caótico da banda, onde tambores, guitarra e teclados são a exclamação do mal. Lúcifer é citado e a voz de McBean está realmente transformada. Solo enlouquecido em volume máximo, destruidor. Com um espaço mais uma vez para o baterista Joshua Wells mostrar sua habilidade. Então “Wild Wind” é a próxima canção. De tempo curto, mas de beleza inversamente proporcional a este. A música soa como a banda toda estivesse colocando seus sentimentos ali.


A gigante “Bright Lights”, de dezesseis minutos, tem pelo menos uns quatro momentos ou “movimentos”, que resumem todo o espírito da banda. Progressiva, agressiva, bela, atinge com todos os instrumentos nossos corações. Um bom rock, criativo e revolucionário por destruir preconceitos. Os vocalistas formam um diálogo e o dissolvem em inúmeras possibilidades de interação. Lá pelo meio, temos quase uma missa anunciada e tudo se reconstrói. Gritos libertários. Tudo em seu peso máximo, eles querem mais. Contudo, “Night Walks” vem encerrar o disco. Amber canta ao som único de um sintetizador. Sua voz ecoa. Parece um choro. A profundidade desta é de chamar a atenção. Ela é uma sombra e a noite anda por entre esta voz. O coro nos leva a outra dimensão. É a despedida, é a despedida.

Curioso? O ano mal começou e “In the Future” é o álbum que recebe destaques no Orkut e Blogs pela Internet.

My Space da Banda : http://www.myspace.com/blackmountain

domingo, 13 de janeiro de 2008

O que querem os Hives?


The Hives

Disco: The Black and White Album

Ano: 2007

Interscope Records

14 Faixas






Os suecos do The Hives sempre são lembrados pelos gritos de Pelle Almqvist ou pelo seu primeiro hit “Hate to say I told you so”. O que, certamente, são fatos indispensáveis. O estilo garage, meio punk com rock rapidinho, música de no máximo 3 minutos são decorrentes de todos seus discos. Porém, novidades aparecem no quarto disco da banda. Como toda banda de rock precisa evoluir para sobreviver, com Hives não foi diferente. E os estereótipos acabam conosco. Esperamos sempre o mesmo som da banda. Aí justificam: “os caras só sabem tocar aquilo mesmo”. Bom, mas se pensarmos assim, Radiohead nunca teria ido onde foi. OK?

Não que os rapazes sejam os melhores do rock atual, está longe disso. Mas conseguem fazer músicas com refrões desafiadores e agradáveis, coisa que muita banda anda com dificuldade, mesmo que isso não seja o mais desafiador do rock. O Hives mais uma vez faz um rock “primitivo”, com guitarra, baixo e bateria, em “The Black and White Album”. “Primitivo” é uma palavra forte, “básico” seria convencional. Entretanto, colocam elementos novos como um experimento dance ou uma música instrumental obscura. E, acredite, o tão famoso vocalista mudou um pouco sua voz gritada para isso.

“The Black and White Album” foi produzido por gente do pop como Pharrell Williams e do rock, como Dennis Herring e Jacknife Lee. Uma mistura notável neste álbum. Escute as duas primeiras músicas que iniciam o disco: elas poderiam estar em qualquer outro disco do Hives. São pegajosas, a primeira começa até com um grito, e respeitam a formulação de guitarras rapidinhas e batidas animadoras. O destaque para a segunda, “Try It Again” são os gritinhos infantis que caíram bem na estrutura, acompanhado por guitarras bases fortes, típicas de White Stripes. A quarta faixa, “Well, Alright”, segue no mesmo ritmo, animado, mas lá pelo meio uma queda: surpresa?! - Sim. São sintomas da mudança. Com “Hey Little World”, as guitarras providas de Whammy, estão a lembrar Jack White, mais uma vez. Ruídos e pequenas batidas eletrônicas aparecem, refrões e percussões que te pegam muitas vezes, rock sincero que dá para mexer os esqueletos.

A quinta música que compõe o disco, “A Stroll Through Hive Manor Corridors” é instrumental, lenta, de clima soturno, que poderia estar num disco do The Cure, quem sabe. Mas está aqui, perdida. Tanto que a próxima faixa repete a mesma estrutura básica já comentada. Um refrão seguido por teclado repetitivo, não é que parece com Killers? De onde vem essa coisa-máquina-pegajosa? Do power pop?! Chegamos, então, na faixa crucial, intitulada “T.H.E.H.I.V.E.S”. O baixo e guitarra parecem dark no começo, com aquela voz “Welcome”, mas quando surge a voz de Almqvist, o que é isso? A mudança pop, esse monstro que engole tudo pela frente hoje em dia. E essas letras citadas uma por uma? Copiaram do Hot Chip? Pelo menos ficou bem melhor...

E por falar em power pop é o que temos na faixa seguinte, “Return the favour”. Os gritinhos e guitarras, porém, lembram Ramones. Mais pegada pop na irritante “Giddy up”, de canto modificado, inspirado pelo rap. O disco nos mostra em maioria canções derivadas do punk. Mas o destaque está em “You dress up for Amargeddon”. O começo nem é tão inspirado, mas o refrão se encaixa com perfeição de um hino punk, algo único neste álbum.

Experimentos como na “Puppet On A String” são válidos. Piano marcante e vozes no pano de fundo. Algo que deu certo. Criativo e de qualidade. Chegamos à última faixa, “Bigger Hole To Fill”, que abrange pontos bons, como a batida meio influênciada pelo eletrônico, mas o refrão se torna repetitivo, ao longo do disco. Algo visceral é visto com raridade neste disco. E isto vai de encontro aos lançamentos anteriores da banda. Deixa a desejar em partes.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

A origem

No princípio era o rock'n'roll. Depois, somente rock. E hoje são mais de 300 variações dentre o estilo. E devemos muito às primeiras bandas, esquecemos um pouco disso às vezes. Sabe, conhecendo um pouco mais da história do rock, vemos o quanto esta é rica e fascinante.

Pegue Chuck Berry, Elvis, Bill Haley, Little Richards, Jerry Lee Lewis. E ainda outros mais como Louis Jordan ( o cara era maluco, com sua dança, usando seu sax e possivelmente precursor do "rap") e Bo Diddley que fazia músicas com um acorde apenas e uma guitarra que lembra até Sonic Youth(!). Estamos falamos somente dos anos 50. Este é basicamente o caldeirão que irá influenciar Beatles e Rolling Stones nos anos posteriores.

Peguemos então os Beach Boys, que não se limitaram ao Surf Music, criando seu disco Pet Sounds, rico e evoluido. Disco este que contagiou Paul McCartney e o levou a pensar em "algo" simplesmente assim como "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", um dos discos mais influentes de toda a história do rock.

A partir daí, temos rumos diversos para esperimentos. Veja também o Velvet Underground com seu som soturno, fazendo contatos com o Punk. Progressivo, Heavy Metal, Hard Rock. O Folk de Bob Dylan. E tudo começa a explodir.

Peguemos bandas atuais e ainda vemos características de bandas precursoras do velho rock. Num simples vídeo do Beach Boys enxergamos o Belle and Sebastian com suas mesmas experiências em vídeo. Nos riffs do Sex Pistols, Chuck Berry. Nas letras de Alex Turner, um pouco de Dylan. E é quando tudo se encaixa, tudo se entrelaça, está interligado.

Por isso afirmo, qualquer susto ou preconceito não convém.



* Pet Sounds - Beach Boys



*Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band - Beatles