quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Thurston Moore - Trees Outside The Academy













Thurston Morre

Disco: Trees Outside The Academy

Ano: 2007

Ecstatic Peace

12 Faixas



As guitarras bases distorcidas dão lugar a violinos e violões. A bateria/percussão fica na pegadinha Sonic Youth. Solos merecem ainda a velha guitarra elétrica. Mas agora as melodias têm mais prioridade, a barulheira fica de lado, em parte. Vocais susurrados, como só Thurston Moore sabe fazer. Junte, além disso, letras e canções de tom noise/folk a participações especiais que fizeram a diferença no disco. Essa mistura levou-nos à essência de “Trees Outside The Academy”, disco solo de Moore.

Depois de doze anos sem lançar discos (solos, obviamente), o cantor, guitarrista e compositor resolveu se aventurar por aquilo que não havia explorado: o acústico. É curioso, no mínimo, ver Thurston “trocar” seu instrumento elétrico por um violão. Mas, por incrível que pareça, ele faz algo parecido com o instrumento acústico, explorando solos e lições vindas desde o começo de carreira. Aí vem a pergunta que todos fazem: parece com Sonic Youth? – Claro! Afinal, estamos falando de um dos mentores da banda, e seu jeito de compor não se modificará por completo. O que muda basicamente aqui são os arranjos, dando-nos canções mais “pop” e/ou mais fáceis de ser compreendidas. Não há o som seco e sujo do SY. Entretanto, alguns acordes do violão de Moore nos fazem lembrar sua banda, além da bateria e percussão comandada por Steve Shelly.

Para compor o disco, Thurston uniu-se ao guitarrista do Dinosaur Jr, J. Mascis, que emprestou seu estúdio caseiro e acabou fazendo algumas guitarras no CD. O violino que surge com freqüência é de Sâmara Lubelski. Foi um achado, um simples toque faz muita diferença. E, se a moda agora é colocar violino em toda banda de canto de esquina, Moore já arrumou a sua violinista. Foi um instrumento que se adaptou ao seu trabalho de maneira peculiar, fazendo bases lentas, harmoniosas, sem exageros ou floreados. A dramaticidade do instrumento é realizada aos poucos, ao movimento de cada música percebe-se o quão preciosos são seus graves e agudos.

Há de se notar que vilões corda de aço ganham expressão nas mãos dos músicos. Não temos ritmos muito rápidos, tem-se mais prioridade em sentimentos que vão desde um solo de guitarra elétrica cortando tudo, violinos ou a voz de Thurston nos repetindo algo. “Frozen Gtr” e “The shape is in a trance” refletem bem isso, dando início ao disco. São canções simples, mas bem trabalhadas, lembrando algo de Sonic Youth, pela bateria. Entretanto, vemos brilhar a terceira faixa, “Honest James”, certamente a mais comovente do disco, por sua letra, melodia, vocais e violões. Chega a ser quase instrumental (mais da metade da música, na verdade) e nos coloca no céu literalmente por sua delicadeza. Christina Carter, vocalista do Charalambides, e Moore cantam juntos nessa faixa, fazendo todo o diferencial do disco.

Adentramos o “Trees Outside The Academy” e vemos mais progressões de violões e solos num clima sempre tenso, como lá pelo meio de “Silver>Blue”. Uma característica das guitarras são sempre a busca pelo além. Surpreende-nos, muitas vezes. Ruídos também se misturam às músicas, como não poderia faltar. Temos canções acústicas maduras que Thurston Moore foi capaz de criar, em “Fri/Emd” ou “Never Day”, folk misturado a roupagens modernas, entretanto, a primeira tende ao pop. Guitarras sujas pouco aparecem, mas formam parte do disco. “Wonderful Witches”, primeiro single do disco, explica isso, buscando influências grunge e do próprio Sonic Youth. Há também “Off Work” que mescla percussão, ao som esclarecedor do violino e guitarras sujas, criando uma sonoridade única. Divide-se em duas, sendo instrumental, chegando sempre ao obscuro e caótico, como um adolescente brincando com sua guitarra. Daqui a pouco vem o acústico e a resolução é simples: a história tem seu final doce. Moore gosta também de pianos, basta ouvir a “American Coffin”, que surge ao ruído e logo aparece, como num sonho, longe e cheia de ecos.

Quando se trata de criatividade, não há discussões sobre as músicas de Moore, sempre atento ao inatingível. O rei do noise rock dedica ainda nos seus discos faixas com 36 segundos de apenas ruídos. Porém, formula canções de seis minutos instrumentais cheias de clímax e ímpeto, nervosas como no caso de “Trees Outside The Academy”, que dá nome ao disco. Suas músicas são eternas experiências que arrancam das veias certa revolta e liberdade. Thurston é corajoso. Espere tudo dele, inclusive a última “música”, que nos remete ao passado do músico com 13 anos apenas. Já fazia travessuras quando nem tinha instrumentos em mãos. São lembranças que consistem num apego do próprio compositor. Para nós não significa muita coisa.


Se Thurston atinge os limites anti-pop?! Nem tanto. São coisas que se perdem com o tempo. Mas o tempo é algo interessante, é relativo. As canções que observamos aqui revelam o íntimo e não há alvos a serem atingidos diretamente. Música para sentir.

Nenhum comentário: