Fortaleza, 18 de abril de 2010
Quinze minutos antes de começar o show do Pequeno Cidadão de encerramento da IX Bienal Internacional do Livro, esperava na fila, pouco acreditando que ainda conseguiria ver o show. Era uma fila para aqueles que não possuiam ingresso. Para aqueles que não trocaram o ingresso por livros, mas que esperam por uma vaga a ser aberta, por sobra de lugares. A primeira coisa que sobe à cabeça é desorganização do evento.
Os ingressos haviam sido distribuídos antecipadamente, sem aviso prévio. Quando humildemente fui perguntar qual a fila em que deveria me encaixar e o que estava acontecendo naquela fila dupla, com ignorância, certo cidadão que recebia os tickets respondeu-me: “Tem ingresso? Não? Então vá para lá”. Sem mais delonga, foi tratar de receber outros com ingresso. Os nervos subiram à flor da pele, mas esperar sem nervosismo era o que me restava. Não só a mim, mas aqueles da fila “dos sem ingresso” que também se sentiram desrespeitados. Mas nada que tenha nos impedido de ver o show, mesmo que num lugar recuado.
O espaçoso auditório principal do Centro de Convenções estava cheio. Pais, filhos, adolescentes, casais, todos no mesmo espaço, esperando a apresentação. Muitos ali fãs de Arnaldo Antunes, Titãs, Ira!, fãs do rock nacional, outros esperando por musicas infantis. Logo subiram ao palco Arnaldo, Edgar Scandurra, Antonio Pinto, Taciana Barros e três dos filhos dos integrantes do grupo: Estela, Luzia e Edgar.
“Aqui tem pequenos cidadãos?” – gritava Arnaldo. “Aqui tem médio cidadão? Aqui tem grande cidadão?” – continuava, enquanto o público os ovacionava. Quando as três guitarras no palco, uma de Scandurra, outra de seu filho e outra de Taciana, iniciaram os primeiros acordes da música “Pequeno Cidadão”, acompanhadas da voz grave de Arnaldo Antunes, tudo pareceu se transformar. Em cores, sons, vozes de crianças, vídeo e interação o espetáculo se moveu.
Tratando de temas infantis como a hora de dormir, o som dos animais e as brincadeiras infantis que criam universos ilimitados, os músicos e acompanhantes conseguiram, talvez, o objetivo principal da noite: encontrar dentro de si o pouco que existe de criança, de moleque. Para isso, a noite se transformou numa brincadeira coletiva, onde atores circenses faziam malabarismo, onde se ouvia solos de guitarra e a música das borboletas.
Numa maneira não só de educar, mas viver e experimentar as coisas é que se concentra, a essência do projeto Pequeno Cidadão. As músicas são intimistas a ponto de que é possível perceber o carinho e dedicação na composição destas. Com isso, só temos a ganhar com as canções que trazem em si a alma do envolvimento entre pais e filhos.
O extraordinário que nos vem em forma de poesia, de música, é de todos nós, pequenos ou grandes. As sensações vêm da relação que há nessa união entre criança e adulto, de uma nova maneira de viver, seja fantasiando ou não.
Quem esperava rock, ganhou, pois Edgar Scandurra mostrou porque nasceu para ser guitarrista e rockeiro, com seus solos ágeis e belos. Quem esperava músicas “infantis”, teve uma apresentação da melhor qualidade. Provando, mais uma vez, que música para criança não é necessariamente música da Xuxa, que ainda existe mentes criativas, para fazer uma música sincera.
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